terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Conhecimento e ação


No agir humano espera-se que à ação siga à deliberação que deverá integrar conhecimento, afetos, liberdade,  vontade e contextos sócio-culturais de vida individual e coletiva. Acontece que nas sociedades emergentes nem sempre se delibera, pensa, sente antes de agir. É certo que na velocidade dos acontecimentos e das situações previsíveis e imprevisíveis que se nos apresentam nas sociedades dos nossos dias não se pode ficar indefinidamente à espera da melhor deliberação para tomar a decisão de agir. Todas as realidades e as respostas às mais variadas situações que se nos colocam constantemente são relativas. Esperar decisões definitivas e absolutas não é  possível neste contexto espacio-temporal em que nos movemos, somos e estamos uns com os outros.  Mas também sabemos que a precipitação é inimiga de uma boa deliberação e consequente decisão.
O novo cidadão nas sociedades emergentes mais ou menos globalizadas não poderá ser privado de uma formação que deverá orientar-se no sentido de o preparar para tomar boas decisões. Por isso descobrir a força do poder mágico de conhecer e aprender que deverá estar subjacente aos processos de pesquisa e formação que  deveriam informar toda a ação e relação do homem nas novas sociedades não poderá de forma alguma estar ausente, antes, pelo contrário, terá que ser uma verdadeira prioridade e energia inspiradora e  determinante do agir humano.
Hoje, é, talvez, aquilo de que mais necessitam as sociedades dos nossos dias para poderem fazer face com sucesso aos grandes desafios que se lhe colocam. Mas é preciso, sobretudo, que os seus cidadãos sejam conscientes dessa necessidade e sejam devidamente preparados para darem a melhor resposta.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Dialética sem síntese ou conclusão

É comum, designadamente, em debates entre forças políticas ficar apenas nas teses e antíteses sem nunca chegar a verdadeiras sínteses que possam gerar compromissos e mobilizar para uma ação conjunta e convergente em relação a um determinado objetivo ou missão a atingir. Numa linguagem mais chã é o que normalmente se denomina diálogo de surdos. Na verdade, todos falam mas ninguém ouve ou pior finge que não ouve nem quer ouvir. Por isso, muitos dos debates que a comunicação social promove ou estão condenados à partida pela natureza dos próprios convites cujos interlocutores não têm qualquer liberdade de sair das suas cassetes ou resultam em conversa fiada ou simples perda de tempo. O esclarecimento e a reflexão que daí advêm são praticamente nulos. Diante deste panorama que é possível observar fácil e notoriamente todos os dias, perguntaríamos o que é que falha, de facto? Será um deficiência de educação, de conhecimento, de liberdade, de cidadania? Será desleixo ou má vontade? Será falta de capacidade mental? Será deformação política ou fingimento? Será simplesmente falta de conhecimento e de ética? Julgo que é um pouco tudo isso e seria necessário mudar rapidamente as concepções e as atitudes para poder abordar os assuntos, quaisquer que eles sejam, e resolver os problemas mais ou menos complicados que se apresentam como gente normal e sensata. Será que isto não é importante e urgente? Só é preciso, diria eu, ativar aquele poder mágico de conhecer e aprender e, consequentemente, de ser, de amar e de estar com os outros em cada ser humano  e de abrir-se constantemente a essa grande aventura de tornar-se mais humano. É a esta síntese ou a conclusão a que dialética viva e dialógica entre as teses e respectivas antíteses sobre os mais variados assuntos e situações deveria chegar.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Dizer-se crente, agnóstico, ateu, que sentido tem?

Ouvem-se, com frequência, da boca de personagens com mais ou menos notoriedade científica, artística, política, cultural, afirmações como:  eu sou crente, eu sou agnóstico, eu sou ateu, etc. Em termos verdadeiramente humanos que significado têm tais afirmações? Serão mais do que dizer: eu sou PSD, PS, PCP, CDS - PP, bloquista, portista, benfiquista, sportinguista, lions, rotário, maçon, judeu, moçulmano, hindu, etc.? Acho que há diferenças, sem dúvida. Aquelas, em geral, são mais existenciais  e estas mais clubísticas ou religiosas. De qualquer modo, quando as pessoas se apresentam como crentes, agnósticos ou ateus, com muita frequência, acabam por fazer afirmações vazias ou evasivas, denotando mesmo um certo desconforto, descompromisso ou preguiça mental.  Se olharmos, porém, um pouco mais fundo, para este tipo de expressões, julgo que as atitudes que lhe estão subjacentes apontam, porventura,  no sentido de que no ser humano há qualquer coisa de crente, de agnóstico ou mesmo de ateu apesar do que este tipo de afirmações possa significar. Tudo está estreitamente religado ao ser que o sentido etimológico da própria palavra 'religião' suporta e o aproxima de espiritualidade. Os seres, os entes apenas são reais ou possíveis na sua ligação ao ser. Tudo vem do ser e respira ser. O não-ser não é nem pode simplesmente existir. A este nível religião e espiritualidade acabam por ser uma mesma coisa.

domingo, 21 de outubro de 2012

Vertigem de ser e de ter

Escolher consciente, responsável e livremente entre esta dupla vertigem de ser e ter da pessoa humana configura também o seu poder mágico de conhecer, aprender, amar, estar com os outros. O problema é que a escolha do ser implica o ter e este não pode subsistir sem aquele. É nesta dialética dialógica da aliança que o poder de conhecer, aprender, querer, amar se institui não apenas como uma dimensão transversal do humano mas também como uma verdadeira magia que nunca será demais sublinhar. É no justo equilíbrio dessa vertigem de ser e de ter que o ser humano acontece e procura tornar-se mais humano. Mas será isto percebido e compreendido, hoje, pelos principais actores da sociedade e, designadamente, por aqueles que têm um papel mais activo, os políticos, os educadores, os filósofos, os cientistas. os artístas, etc. ? Não parece muito clara esta opção mas nem por isso deixa de ser necessário assumí-la de uma maneira frontal e determinada por aqueles que têm por missão educar as gerações mais jovens para uma cidadania consciente, responsável e livre. Sem esta atitude todos os demais conteúdos de formação científicos, artísticos, tecnológicos, axiológico, culturais, por mais conseguidos e articulados que sejam, se não forem convergentes com esse pressuposto acabarão por ser construções sobre terra movediça e sem futuro. Por isso nunca será demais insistir nesta ideia não só junto das gerações mais jovens mas também junto de todos aqueles que, de um modo ou de outro, se cruzam conosco. É este também aquele poder mágico de conhecer e aprender em que vimos insistindo e prometemos continuar a fazê-lo como algo que deverá estar sempre presente na acção humana que deverá ser uma acção criativa, demiúrgica, simples, transparente, séria, autêntica.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Porquê a Psicologia, de há anos a esta parte, continua a marcar passo no mesmo ponto?

Já há uns tempos que me pergunto, sobretudo, quando visito livrarias e bibliotecas, porque é que não se nota grande inovação em Psicologia, contrariamente ao que acontece noutros domínios do saber? É uma pergunta que me tem feito pensar e cuja resposta ou questionamentos para uma resposta possível julgo saber por onde poderá ser encontrada. Será devido à natureza do seu próprio objecto: o psiquismo observado através do comportamento? Será porque no passado próximo e longínquo se avançou imenso sobre aquilo que é mais específico e distinto no ser humano, a mente, o espírito, a razão? Efectivamente, antes dos cientistas ocuparem o palco do desenvolvimento científico e tecnológico foram os filósofos, os sábios que detiveram esse lugar. De tempos muito antigos nas religiões e nas culturas encontramos relatos  e estudos muito detalhados, rigorosos e profundos sobre o espírito humano. Este património, de certa forma, convergiu numa determinada altura, porventura, muito recente em relação à longa história da humanidade, em duas cidades com inspirações e recortes muito distintos: Atenas e Jerusalém. Uma de matriz mais racionalista, intelectual, que Camões traduziu "em clara Grécia", Atenas e a outra de matriz mais cordial, mais amorosa, mais afectiva, Jerusalém. Este foi um tema que, na altura, em que desenvolvia  um projecto de investigação para um doutoramento em Filosofia na Universidade Católica de Lovaina, tive em mente mas que ambandonei com receio de o não poder levar a bom porto, pois exigia tempo e recursos de que, na verdade, não dispunha. Ficou, no entanto, sempre no meu espírito como um desafio e uma aventura adiados cuja importância e actualidade, nem por isso deixaram de ser menores nos nossos dias, como duas matrizes culturais que continuaram e continuam a estar presentes num processo dialéctico e contínuo nas mais variadas realizações do progresso científico, artístico e tecnológico pelos tempos fora na aliança dialógica nem sempre fácil e isenta de conflitos entre o oriente e o ocidente mais próximos ou longínquos. Nascente e poente, oriente e ocidente, vida e morte são os polos, porrventura, opostos de uma síntese, de um encontro que se procura constantemente alcançar. Julgo que é essa também a história do espírito humano que a Psicologia procura estudar e compreender através do comportamento. É por isso também aí que terá que acontecer a originalidade e inovação que se deseja na ciência psicológica que talvez esteja a ter lugar não propriamente no campo da Psicologia mas em outros domínios do saber e, designadamente, na ciência cognitiva, neuraciência e nas microbiologias e nas nanociências. É, pelo menos, essa a convicção que me trabalha há vários anos a esta parte.     

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Conhecimento e honestidade intelectual

Tenho insistido que conhecer e aprender é um verdadeiro poder mágico do ser humano.  Hoje essa realidade é cada vez mais evidente. Também sabemos que o conhecimento e a aprendizagem são actividades transversais a toda acção humana. A sua estrutura e dinâmica pressupõem três elementos essenciais: sujeitos com capacidade cognitiva, objectos susceptíveis de ser conhecidos e a união ou acto entre sujeito e objecto ao nível da sensação/percepção, da imaginação, da idealização ou conceptualização, do juízo ou da afirmação e do raciocínio. Se esta união ou acto não se verificar o conhecimento ou a aprendizagem não poderão acontecer. Mas a qualidade deste poder mágico, demiúrgico, transformador não depende apenas da simples união entre o sujeito cognoscente e o objecto ou a realidade conhecida ou  a conhecer. O conhecimento e a aprendizagem não poderão reduzir-se a meros automatismos reflexológicos, de condicionamentos ou hábitos mais ou menos complexos. Precisa, sobretudo, de uma grande disponibilidade e acolhimento mental, consciente por parte do sujeito para assimilar, acomodar e equilibrar em si os estímulos provenientes do mundo dos objectos existentes interna ou externamente e possíveis que desse modo enviam sinais da sua presença seja qual for o lugar e a distância a que se encontrem, a velocidades elevadíssimas em função da sua natureza sonora, luminosa ou outra. É maravilhoso imaginar toda essa variedade de sinais de presença de realidade existente que nos chega constantemente  e, de alguma maneira, entra em nós e fica a fazer parte de nós enquanto sujeitos conscientes, abertos e disponíveis. É para esta maravilha do poder mágico de conhecer que possibilita toda a aprendizagem que gostaria de chamar a atenção. Este acolhimento, porém, pressupõe da parte do sujeito uma grande honestidade intelectual,  mental o que nem sempre infelizmente se verifica. Basta dar um passeio breve pelo mundo dos homens, pelos seus valores, pelas suas concepções ideológicas, pelas suas crenças, pelos seus comportamentos para encontrar enormes dissonâncias e contradições. Fala-se de diálogo, fazem-se promessas, organizam-se encontros para os povos se entenderem e estabelecerem consensos e o que se vê são dissensos, confusão e violência. Por isso, talvez seja necessário levar mais longe e mais fundo este poder mágico de conhecer e aprender através de uma formação, de uma educação mais cidadã, mais comunitária, mais rigorosa, séria, tolerante, deversificada, mais humana. Trata-se de uma necessidade e de um desígnio da sociedade emergente que não poderá ser adiado por mais tempo mas que terá que assentar em mais e melhor conhecimento e homestidade intelectual, sobretudo, dos principais actores sociais e políticos. 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A aventura de novo ano lectivo

Por estes dias, em todos os graus de ensino, uma nova aventura de conhecer e aprender teve início nas escolas e nas instituições do ensino superior. O grande objectivo deveria ser o de "empoderar" os alunos e professores de novos conhecimentos, de novas aprendizagens, de um verdadeiro poder mágico para mudar e transformar as coisas, as situações, os comportamentos e as vidas das pessoas para enfrentar as realidades de uma sociedade emergente em que as dificuldades e os desafios se apresentam e avolumam de dia para dia. Será que é isso, de facto, o que está no espírito dos principais actores, das respectivas instituições e das políticas que lhe estão subjacentes? Não é claro e muito menos com a intensidade e o envolvimento necessário e desejável para atingir tão grande desígnio. Sabemos, no entanto, que o problema não é apenas dos países com mais dificuldades ou em crise profunda mas em todo o lado. Falta, efectivamente, perceber o sentido e o papel do conhecimento e da aprendizagem na acção humana como realidades transversais sem as quais as emoções, os setimentos e o comportamento consciente do ser humano não é possível.
É preciso, pois, acolher e trabalhar desde o começo, com afinco e determinação para que aconteça uma nova era de esperança e confiança no futuro que, com certeza, não poderá ser desligada desse poder mágico de conhecer e aprender que é próprio das pessoas. Mais um ano lectivo, de formação, de construção de conhecimento e aprendizagem para continuar a transformar o mundo dos homens é o que realmente terá que estar na primeira linha de acção de todos aqueles que não desistem e persistem nesta grande aventura de ser e de tornar-se mais humanos.