terça-feira, 13 de janeiro de 2015

As fronteiras das liberdades

Nestes últimos dias, em virtude dos violentos e odiondos ataques ocorridos, em Paris, todos eram ou charlies, não charlies ou indiferentes e unânimes na sua condenação de forma veemente e determinada. Nas gigantescas manifestações de Paris, de França e do mundo, o eco que vinha das ruas, da comunicação social e das mais variadas reações, discursos e opiniões que se fizeram ouvir a convite ou espontaneamente nos mais diversos azimutes, era muito semelhante. Assistimos também a reuniões ao mais alto nível e a medidas de alerta e de prevenção que, no imediato, foram tomadas de que destacaria, os 10 mil soldados, em França,  para reforçar  as polícias nos pontos de ameaça mais sensíveis. O que acontece, na realidade, é que os problemas continuam todos lá, em Paris e em outras muitas grandes, médias e pequenas cidades do mundo. Efetivamente, as sociedades e as comunidades dos homens, apesar de termos ultrapassado as grandes tensões da guerra fria, estão mais violentas e intolerantes. Aos meus olhos, tudo tem a ver com as fronteiras das liberdades que deveriam manter-se dentro dos valores fundamentais do respeito pela dignidade humana que está subjacente a convivência e à paz. Manuel Kant, na Ética dos Costumes, assume como um imperativo categórico, na linha de uma longa tradição de bom senso que vem do fundo dos tempos,  que o limite das minhas liberdades são as liberdades dos outros. Acho que este imperativo terá que continuar a ser válido no futuro sob pena das sociedades humanas se destruírem mutuamente. Neste grande desafio da nova ordem e convivência mundial, a educação do cidadão  terá que ser uma peça fundamental das diferentes ideologias, religiões e culturas e não apenas um desejo ou uma promessa vã dos políticos para conseguirem mais uns votos para alcançar o poder. O discurso comunicacional e argumentativo dos mais variados quadrantes tornou-se demasiado violento, falso, injusto e, não raro, ofensivo e pouco civilizado (educado) a que os diferentes meios da comunicação oral, escrita ou imagética estão longe de dar a resposta mais adequada e pedagógica. Sobressaem, particularmente,  na ressonância das suas notícias, opiniões e comentários, o interesse pelas audiências, a defesa das clientelas políticas, ideológicas e sindicais. Só um trabalho a sério e persistente poderá alterar este estado de coisas e ajudar a resolver os enormes problemas que afetam a comunidade mundial dos nossos dias bem como abrir verdadeiros caminhos de concórdia e de paz para o futuro. Continuar a repetir os erros do passado, não obstantes as manifestações, as festas de rua e a ostentação das vaidades, não conduzirá a lado nenhum. Até quando esta investigação e reflexão de fundo continuarão a estar ausentes da educação do cidadão seja ela presencial ou à distância, individual ou coletiva? Acho que é na resposta a esta questão que este combate inadiável e urgente deverá ser travado com convicção, discernimento, bom senso, coragem e persistência. Também aqui conhecer, aprender, bem querer e respeitar deverão estar dentro das prioridades essenciais da ação humana.