segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Correspondência entre padrões neurais e imagem mental

Esta é uma das hipóteses que António Damásio parece ter no centro do seu questionamento e que gostaríamos considerar mais em pormenor. Julgo que não é possível defender que há uma equivalência entre padrões neurais e imagem mental pois são realidades de natureza distinta. No estado actual da investigação, não parece, pois,ser defensável que a imagem mental procede de um determinado padrão neural no final de um processo evolutivo que, num preciso momento, espontaneamente se transforma em imagem mental. Nem António Damásio, no fundo, parece acreditar bem nisso.Trata-se apenas de uma hipótese que se revela interessante para continuar a investigar uma questão cujas respostas até agora encontradas estão longe de ser satisfatórias. A realidade do ser humano composto de alma e corpo continua a dar que pensar e a desafiar a biologia, a neurociência, a psicologia e a filosofia bem como as novas abordagens ao nível das nanociências e das nanotecnologias. Pelo que a arte continua a ser longa e vida breve para satisfação da curiosidade e cupidez do homem de todos os tempos em busca do seu próprio equilíbrio interminável.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

CIDINE: ABERTURA DO BLOG CIDInE - 1 de Junho de 2011

CIDINE: ABERTURA DO BLOG CIDInE - 1 de Junho de 2011: "ABERTURA DO BLOG CIDInE - 1 de Junho de 2011"

O problema de António Damásio

O problema de António e de outros muitos neurocientistas é o de um excesso de optimismo no progresso científico e da confiança excessiva na racionalidade. As hipóteses que levanta e procura demonstrar com base nas conclusões mais avançadas da pesquisa sobre as ligações do cérebro com o corpo, mundo interior e exterior, a criação da mente, o surgimento do eu e emergência da consciência ficam reduzidas e demasiado fechadas na dinâmica da evolução natural e espontânea. O cérebro humano ao nível cortical, talâmico e hipotalâmico e do tronco cerebral numa dinâmica colaborativa de acordo com as suas diferentes possibilidades de diagnóstico, coordenação e intervençâo a partir de todo um equipamento adquirido no decorrer da longa história da humanidade que, de alguma forma, se reproduz na vida de cada indivíduo, mapeia toda a realidade interior e exterior que por sua vez possibilita a entrada em acção da mente. Por sua vez, a entrada da mente torna possível a transformação das disposições em sentimentos primordiais e abrirá caminha à maravilhosa aventura da emergência da consciência que não terminará jamais. O proto eu e eu nuclear abrirão caminho ao eu autobiográfico que por sua vez possibilitarão a consciência nuclear e autobiográfica. A este nível, ficam ao alcance do ser humano o pensamento, a linguagem, o sentimento nas suas mais diversas modalidades, a ética, a cultura, a arte na suas diferentes expressões musical, pictórica, literária, arquitectural, etc. A narrativa científica de António Damásio não parece permitir ir mais longe tendo em conta o seu ponto de partida. Fica fechado no interior de uma visão evolutiva e imanente. A regulação da vida garantida por processos biológicos, corporais e neurocerebrais na interface corpo-mente em que dará mais tarde entrada o eu possibilitando a emergência da consciência dever-se-á à homeostase puramente biológica ou progressivamente potencializada e especializada pela mente e pela consciência uma vez habitada pelo eu nuclear e autobiográfico.
Como neurocientista Damásio não parece abrir-se à experienciação anárquica do antes em que tudo poderá ter acontecido, como diria Levinas, que apenas a ligação religiosa dos crentes possibilita, e predispor-se para poder entrar na exterioridade infinita de Alguém totalmente Outro, um Deus infinitamente amoroso, clemente e bom, revelado em Jesus Cristo como Pai. A neurociência de António Damásio, pelas leituras e estudos que me foi possível fazer, acho que não chega a este nível homeostático a que o ser humano parece aspirar e, porventura, reclamar, nem as hipóteses que científicamente pretende demonstrar o permitiriam. Mas é uma hipótese que de há muito está presente e é debatida e vivida na história da humanidade e exigirá também respostas nestes tempos que são os nossos e no futuro sem complexos mas com o melhor de todo o nosso equipamento cognitivo, afectivo, cultural que a longa história do progresso humano e de todo o seu aperfeiçoamento vai possibilitando. Isto poderia chamar-se simplesmente honestidade, desnudez, respeito para com a realidade que se nos apresenta em cada um dos momentos em que a pretendemos descrever, explicar e compreender. Pará isso será necessário, com certeza, mobilizar a ciência, a arte, a tecnologia e, porventura, a crença ao mais alto nível de que o ser humano vai sendo capaz em cada momento.