quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Ser responsável antes de ser livre

Este é um pensamento que desenvolvi em artigo, extraído da tese de doutoramento em Filosofia, sobre Verdade e relação ética em Manuel Lévinas, publicado, em 1981, na Revista da Faculdade Filosofia, Braga, que continua a vir-me ao espírito sempre que é abordada a questão ética nas instituições, nas sociedades e nos comportamentos das pessoas dos nossos dias: o ser humano é responsável antes de ser livre e constitui o fundamento da sua ação ética como pessoa. Como? Esta é a grande questão que se coloca. Manuel Lévinas recorria a uma relação com o outro, o outro total e simplesmente, que ele chamava de não violência da representação lógica, anárquica, que precederia a própria existência e pressupunha um outro sentido de liberdade: liberdade de o ser humano fazer o que realmente quer e não apenas a livre escolha de fazer isto ou aquilo. Ou seja, o que é que o ser humano quer, deseja, no mais fundo de si? Ser, ser mais e melhor, tornar-se mais humano, ser feliz. Será isto possível no mundo em que vivemos? Faz sentido ontologicamente falando ou apenas para quem tem fé em Alguém, num totalmente outro, Deus? Mas essa é precisamente a questão.