terça-feira, 13 de agosto de 2013

Tudo o que passa por nós fica em nós

Não apenas somos de uma determinada forma mais ou menos específica mas tudo aquilo que conhecemos, sentimos e queremos de algum modo nos marca e fica em nós fazendo parte, para o bem e para o mal, do nosso próprio ser e estar no mundo e com os outros. Quando ajudava os meus alunos a descobrir e a compreender a essência e a natureza do fenómeno do conhecimento que determina, em certa medida, todo a agir humano a níveis mais conscientes, subconscientes ou inconscientes e, mesmo pulsionais, instintivos e reflexológicos, tinha em mente este pensamento. Às vezes, insistia, mesmo sem professar as teses determinísticas que a natureza  não perdoa deixando as suas marcas indelevelmente visíveis no decorrer do tempo quer físicas, biológicas, psicológicas, sociais, culturais, éticas. É isto o que está também subjacente a esse poder mágico de conhecer e aprender que nunca será demais sublinhar como condição sine qua non do agir humano em que a capacidade de comunicação e relação assumem a sua expressão mais alta e determinante possibilitando a sua própria liberdade de ser inteligente, consciente e responsável. Emmanuel Levinas, no momento mais avançado do seu pensamento transcendental, porventura,  à luz da sua fé talmúdica e de uma lógica da alêtheia, suportada mais numa perspectiva anárquica da realidade do que na lógica da representação, em que o que está em questão, aos seus olhos, é a possibilidade do sujeito humano ter de ser responsável antes mesmo de existir e de ser livre.  Esta sua perspectiva anárquica pressupõe uma visão antecipada da própria realidade da existência humana antes mesmo de ela própria acontecer. É como se a pessoa estivesse sentada numa poltrona a assistir ao advir da sua própria existência e poder ser responsabilizado antes mesmo de existir e de ser livre.
Noutros tempos, o meu espírito foi questionado e, de certa forma, seduzido por esta forma de ler o mundo, a vida, o existir humano e os diferentes modos de os apreender, pensar e exprimir. Não irei debruçar-me aqui sobre esse tempo e alguma pesquisa que desenvolvi, designadamente, para a tese de doutoramento mas não resisto em evocar um pequeno resumo que, na altura, foi publicado  na Revista Filosófica de Lovaina que rezava assim:
Cette thèse veut être un essai de rapprochement entre le cheminement et le but des démarches de Levinas et de Lacan. Il s'agit, certes, de deux discours différents, s'inscrivant l'un dans une sorte d'analyse existentiale phénoménologico-éthico-mystique, l'autre dans le champ de l'expérience psychiatrico-psychanalytique. Mais, tout en se méconnaissant l'un l'autre, ils ont quelque chose en commun, à se dire et à faire. Ce quelque chose apparaît à la suite de quelques conclusions auxquelles aboutit l'A., à savoir : tous les deux, et différemment, mènent le même combat contre la «violence de la lumière», contre une conception «ontique» du monde, de la représentation logique, contre les prétentions trop optimistes d'une conscience du Même, contre le discours du savoir, du «maître»; en conséquence de cet état de choses, tous les deux proposent une «déconstruction», un «dédire», un « déjouer » du langage ordinaire ; tous les deux suivent une dialectique méthodologique semblable : celle qui va du concret au concret ou du concret à la «concrétude » des choses, se gardant donc de tout processus d'abstraction logique et procédant plutôt par approches imagées allant d'image à image, de suggestion à suggestion, bien qu'à un niveau fort symbolique.
(756 Chroniques. José Pereira da Costa Tavares, Le langage de l'autre chez
Emmanuel Levinas et Jacques Lacan (29 juin 1977). Ouvrages envoyés à la rédaction. In: Revue Philosophique de Louvain. Quatrième série, Tome 75, N°28, 1977. pp. 786-794.

http://www.persee.fr/web/revues/home/prescript/article/phlou_0035-3841_1977_num_75_28_6904 )


Nessa altura, havia um discurso distinto que me trabalhava, mas, no fundo, ele não era muito diferente, não obstante o desenvolvimento científico e tecnológico extraordinário que entretanto se operou, daquele a que efectivamente voltei, em 2011, no livro: O Poder Mágico de Conhecer e Aprender.  Por   isso, quando afirmamos que tudo o que passa por nós fica em nós estamos apenas a dizer que na natureza nada se perde tudo se transforma e que a mudança só é possível porque tudo permanece e nós somos, sobretudo, o nosso passado porque o presente quase não existe, pois quando está a acontecer já era, e do futuro pouco ou nada sabemos. É este poder mágico de conhecer e aprender que continua a abrir ao ser humano o desenvolvimento científico, tecnológico e artístico em aceleração constante e lhe permite continuar a sonhar e, sobretudo, a ser mais humano. O segredo, porém, de toda esta aventura está na convergência dos saberes e dos modos de os atingir mais fechados e rígidos da representação lógico-matemática ou mais abertos e flexíveis, resilientes da hermenêutica, da heurística, da verdade do mundo, da vida e do homem como alêtheia, que é sabedoria. Será interessante e fecundo olhar para o poder mágico de conhecer e aprender  pela convergência desta dupla abertura que, efectivamente, possibilita que o nosso agir humano connosco e com os outros, permanece,  fica em nós, nos marca indelevelmente  e nos transforma.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

As instituições de formação e pesquisa do futuro

É significativa, a este propósito, a intervenção do Presidente da Universidade de Washington, Michael K. Young, na sua alocução à comunidade universitária, em 18 de outubro de 2012, ao chamar a atenção para o facto de que a educação, a formação do cidadão enfrentam, nos nossos dias, profundas e fortes  pressões que envolvem ou obrigam a novas formas de adaptação a um  novo paradigma, que enuncia aswim:  “The university of tomorrow is moving toward a new paradigm — certainly one with greater efficiency, but also one where innovation and technology combine with hands-on, collaborative learning to give our students an enhanced experience. Tomorrow’s university also exists in a world that is getting smaller and more hyper-connected. That means the great societal challenges we face require equally connected, integrative solutions.” 
Neste novo paradigma, de uma universidade mais pequena e mais hiperconectada,  a mobilidade, as redes de ligações, a abertura, a inteligência colectiva e os mundos virtuais apontam para novas e metatendências que irão configurar, no futuro, a formação, a pesquisa e os processos de conhecer e aprender.  Essas metatendências começam a identificar-se em torno dos pressupostos que começam a fazer parte de um certo património comum cujas principais linhas se constelam em torno de ideias que num sentido mais global e abrangente aqui relembramos em língua inglesa, a saber:

1. The world of work is increasingly global and increasingly collaborative.
2. People expect to work, learn, socialize, and play whenever and wherever they want to.
3. The internet is becoming a global mobile network--and already is at its edges.
4. The technologies we use are increasingly cloud-based and delivered over utility networks, facilitating the rapid growth of online videos and rich media.
5. Openness--concepts like open content, open data, and open resources, along with notions of transparency and easy access to data and information--is moving from a trend to a value for much of the world.
6. Legal notions of ownership and privacy lag behind the practices common in society.
7. Real challenges of access, efficiency, and scale are redefining what we mean by quality and success.
8. The internet is constantly challenging us to rethink learning and education, while refining our notion of literacy.
9. There is a rise in informal learning as individual needs are redefining schools, universities, and training.
10. Business models across the education ecosystem are changing.
Excerpts of the 10 top metatrends identified in A Communiqué from the Horizon Project Retreat, January 2012, an NMC Horizon Projectpublication under Creative Commons attribution license.

No fim de contas, porque é que tudo isto é importante? As  respostas a esta questão começam também a emergir com mais frequência e em espaços virtuais cada vez mais  abertos, virtuais, do domínio público, a saber:


Universities have long been able to adapt to their external environments without having to change their basic structures and ways of working. The shifts they now face are challenging the very idea of a university that has allowed these institutions to sustain themselves over hundreds of years.  Major changes will be needed across all areas, including:
  • ramping up technological infrastructure to be able to meet the expectations of the next generation of students,
  • accelerating the shift from academic driven learning to personalised and more flexible forms of learning - not a new concept but one that is becoming a reality among new providers and which money aware/ cost conscious students increasingly expect,
  • building new staff skills and capacities to enable radical innovation,
  • maintaining an even stronger focus on what really matters for the future,
  • designing new organisational structures that remove the silos that now keep people and knowledge apart in universities,
and most importantly,

  • creating new roles for academic staff to ensure they stay at the centre of the whatever new ways of learning eventually emerge from this transition.

Neste novo contexto, as instituições gigantescas, com grandes campi e edifícios de grandes dimensões cuja manutenção nos tempos de hoje se torna insustentável ou absorve uma boa parte dos recursos disponíveis, irão ser rapidamente substituídos por estruturas mais pequenas, leves e dinâmicas mas fortemente equipadas e hiperconectadas com base nas tecnologias mais avançadas que a investigação científica coloca a disposição do ser humano a velocidades estonteantes.
Os estudantes, os professores e outros agentes dessas instituições poderão realizar grande parte da sua actividade nas suas próprias casas mas uma boa parte que actualmente são gastos com a manutenção dos seus campi poderão ser dirigidos para apoio da atividade à distância do seu staff, dos estudantes e serviços administrativos e técnicos. A cara e a dinâmica da instituições universitárias do futuro irão certamente ser muito diferentes. 

É a esta luz, que as grandes transformações e a mudança das instituições do ensino superior estão já, aos meus olhos, a acontecer não apenas na sua estrutura física mas também na sua organização e gestão que uma nova concepção científica, pedagógica, curricular, tecnológica, social e cultural está a exigir.  Tudo isto vem demonstrar força e a importância desse poder mágico de conhecer e aprender com que o ser humano nos surpreende constantemente. É nesta direcção, que a nossa atenção e questionamento deverão continuar estar vigilantes, perspicazes e, sobretudo, procurar ser inteligentes, criativos, razoáveis e livres.




segunda-feira, 22 de julho de 2013

Conhecimento novo ou mais informação?

Embora não possamos negar que estamos a assistir ao acontecer de um novo conhecimento, de formas inovadoras de ver o mundo das coisas, das pessoas, da vida e o novo sentido das relações que se estabelecem, teremos de convir que uma boa parte dessa inovação deverá situar-se, sobretudo, ao nível da informação em que a qualidade nem sempre é a melhor. Há, por certo, mais e melhor informação, não obstante a dificuldade de a gerir criticamente e a transformar em verdadeiro conhecimento mais aprofundado e, porventura, mais original, novo, melhor. Este novo conhecimento, hoje, manisfesta-se, sobretudo, no domínio e transformação da realidade através da criação artística, invenção científica e utilização de novas tecnologias que nos permitem chegar mais longe e mais fundo no conhecimento da realidade em que habitamos e nos habita estreita e inefavelmente. Mistério é o seu nome que o poder mágico de conhecer e aprender que o ser humano detem procura trazer à presença na linguagem que é nossa pátria, nossa morada. É a esta luz que o homem adquire toda a sua dignidade e se mostra na sua própria identidade que lhe permite ser e agir para se tornar cada vez mais humano. Nunca será demais chamar a atenção para esta realidade do homem que constitui a razão de ser da sua ação e comportamento no modo de ser e de estar consigo e com os outros.
Quando nos referimos ao seu poder mágico de conhecer e aprender, que possibilita a sua capacidade de sentir, querer e amar, é esta dimensão que pretendemos destacar em especial. Ela constitui também a sua motivação interna e externa que não poderá estar jamais ausente da sua ação humana seja qualquer for o objecto, o acontecimento ou a relação sobre que incida.  É este conhecimento e esta experenciação que é preciso inculcar em todos aqueles que procuram verdadeiramente conhecer e aprender assimilando, acomodando, equilibrando toda a informação através de uma gestão rigorosa, séria, crítica, honesta, no sentido de a adaptar à realidade das novas situações a fim de as resolver e ultrapassar com o maior sucesso possível. É nesta dinâmica e dialéctica dialógica que deverá desenvolver-se todo e qualquer processo de docência, de pesquisa, de aprendizagem, de formação, educação e socialização. A responsabilidade e a maturidade cidadãs não poderão acontecer sem estes pressupostos que constituem como que a condição sine qua non para a sua efectivação. Uma concepção assim configurada deverá desencadear uma acção transformadora nas atitudes, nos comportamentos dos sujeitos e servir de motivação de motivação interna e externa em todos os processos de aprendizagem e de pesquisa que conduzam a uma verdadeira cidadania esclarecida, responsável e livre.  Se assim acontecer, estou certo que o poder mágico de conhecer e aprender em que, de algum tempo a esta parte, vimos insistindo, assumirá toda a sua força e significação e será uma verdadeiro motor de mudança e transformação da acção no sentido da sua realização e otimização. Penso que é justamente aí que está o segredo e a possibilidade do novo conhecimento e da nova acção e transformação que se desejam e esperam. É esta gestão da vasta e variada informação de que dispomos nos nossos dias que nos possibilitará o novo conhecimento e a nova acção num futuro que é já presente e se acumula no passado como energia, força e inspiração contínua e permanente. 

sexta-feira, 14 de junho de 2013

O poder do conhecer e a sabedoria do crer

Duas atitudes que recortam concepções do mundo e da vida distintas mas que, de algum modo, se implicam mutuamente. Hoje, apesar dos agnosticismos, dos ateismos e, sobretudo, de uma indiferença envergomhada ou fictícia, a ligagação entre estas duas atitudes e representações da realidade tornou-se na questão fundamental dos cientistas, dos filósofos e dos sábios. O poder de conhecer, de aprender, a sabedoria de ser e a força do crer constituem o verdadeiro poder mágico do ser humano na grande aventura de tornar-se mais humano que constitui o anseio mais fundo e dinâmico do seu querer, da sua vontade. Por isso, a educação do cidadão que etimologicamente significa ajudar a sair do seu próprio fundo e desenvolver-se em interação esteita e equilibrada com os contextos mais ou menos favoráveis que a vida proporciona até à sua otimização, constitui o afazer fundamental do ser humano. No cerne dessa intenção e dessa ação estão sem dúvida esses dois pilares ligados por esse luminoso e copulativo: o poder de conhecer e a sabedoria do crer que é também amar, respeitar, ser honesto para com a realidade, com os outros, com a vida, numa palavra,  com tudo aquilo que existe ou é possível de vir a existir.  Este é também o cântico de louvor e de prece que o ser humano com fé ou sem fé não poderá deixar de entoar e dirigir a toda essa beleza, maravilha que se revela e esconde em tudo o que existe ou é susceptível de poder vir a existir. Ser é o seu nome a que o homem pelos tempos fora foi dando outros nomes que, de certa fora, revelam e escondem Algo, Alguém que muitos também chamamos Deus e uns poucos reconhecem como Pai, como Amigo, em Jesus de Nazaré, o Cristo, o Deus com os homens. Tudo isto pode ser visto e condensado nesse luminoso e copulativo em que se ligam o poder de conhecer e a sabedoria do crer que exprimem e ocultam o verdadeiro poder mágico, demiúrgico do humano que lhe permite tornar-se mais humano até a sua plena realização. Mesmo nestes tempos, de enorme progresso científico e tecnológico, não podemos esquecer esta realidade que nos habita e que revela e oculta a verdadeira identidade do ser humano em evoução no tempo ha muitos milhares de anos. Olhar para a realidade, por este prisma, não poderá fazer-se através de uma lógica da representação que define, recorta, violenta, tapa mas da alêtheia que revela ocultando, na aliança dialógica do discurso da não violência, do respeito e da honestidade para com a realidade que, no momento em que se oferece, não se deixa algemar nas fronteiras do conhecer e exige a abertura misteriosa, sábia e livre do crer. Por aí se pode, pelo menos, vislumbrar a verdadeira identidade do homem na sua realidade mundana no tempo e no espaço como ser não acabado em desenvolvimento constante no seu no seu estar e devir como ação única e insubstituível  que o próprio poder de conhecer e aprender  efectiva e naturalmente desencadeia.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Marcadores de inovação

Desde sempre, nos mais variados domínios da actividade humana, foi importante identificar os principais marcadores de inovação. Em momentos de um certo deslumbramento artístico, científico, tecnológico, as pessoas e os povos tendem a ver coisas novas, inovação em tudo o que mexe e ficam embasbacados. Outras vezes, entram numa grande monotonia e, até, numa certa indiferença e depressão em que tudo está mais do que visto e se patina no mesmo ponto como se tratasse de um pneu atolado na lama ou de um disco estragado. A pergunta que se coloca normalmente é: como identificar os possíveis marcadores de inovação nos diferentes domínios da ação humana e como incentivá-los e otimizá-los? Esta questão remete-nos para o conhecimento e a aprendizagem. Ou seja, o que é conhecer e aprender que costitui a sua estrutura e ação fundadora? O que é que fazemos na ação de conhecer e a prender que provem do ser e de um certo estar no contexto de uma realidade mais ou menos alargada existente e possível ? Digamos, estas questões, colocam-nos a problemática da essência e natureza de conhecer e aprender bem como das suas margens ou limites. Em si mesma, a ação de conhecer e aprender é sempre um acontecer inefável, inovador e, de alguma forma, transformador, demiúrgico, mágico, criador. Na ação de conhecer que possibilita o próprio processo de aprender, tudo parece iniciar-se  na e através da intuição que ao nível do humano depois se desdobra nos mais variados e complexos raciocínios em que o sujeito cognosente, diante das mensagens que a realidade existente e possível, incluindo a do seu próprio mundo interior, lhe oferece, se une a ela, a  assimila, acomoda, equilibra, se lhe adapta e age, assumindo uma nova realidade objectiva e subjectiva que se desenvolve e otimiza indefinidmente na ação dialógica e dialética de uma aliança imanente e transcendente com outrem e com o outro mundanos e extramundanos. Sentir,  perceber e acolher este clique intuitivo que está subjacente a toda a ação científica, artística ou tecnológica é o princípio da invenção e da criação artística em que o poder mágico de conhecer e aprender assume toda a sua força e intencionalidade. Por isso, os marcadores de inovão, seja qual for o domínio em que nos situemos, terão de ancorar-se neste fundo em que efectivamente o humano devem mais humano em toda a sua intenção, extensão e profundidade. Esses marcadores decorrem da simplicidade, da espontaneidade, da originalidade e da sua concisão e justeza. Como me apraz repetir: tudo é complexo mas a compexidade é simples. O que é preciso é compreender e explicar  o quê, o porquê e o como dessa intuição criadora na  própria ação, inefável, demiúrgica,  mágica de conhecer e aprender que deverá servir de encorajamento e motivação a todos os que constroem conhecimento, científico, pedagógico, artístico ou filosófico e fazem a sua aplicação tecnológica e prática.
  

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Viagem ao fundo de cada coisa existente ou possível

Todos os dias, no enlevo do sono, "fazemos uma viagem a um mundo desconhecido", diria Teresa Paiva. Efectivamente, enquanto dormimos não sabemos nada por onde andamos e que mundos visitamos. O mesmo acontece em situações de coma e outros estados biopsíquicos em que, na verdade, não guardamos nada que posteriormente possamos lembrar e reproduzir. Na viagem ao fundo das coisas existentes e possíveis que a consciência e  o pensamento nos possibilitam realizar acontecem normalmente duas coisas: a primeira em que descemos os diferentes patamares molecular, atómico, subatómico, smplesmente energético com matéria ou antimatéria mais ou menos densa e pesada em espaço cada vez mais rarefeito e etéreo e a segunda em que nos defrontamos com a sensação repentina em que tudo escurece que embora não nos impeça de continuar a viagem, como no sono, não sabemos mais onde fomos e por onde andamos. Só sabemos que regressamos sempre ao nosso ponto de observação, ao estado de vigília com as mãos cheias de nada. Ou melhor um nada cheio de tudo que nos instiga constantemente a repartir, como no sono, para saciar a nossa fome existencial de requilíbrio físico, biológico, psíquico, cultural, humano. Na verdade, somos uma espécie de coisa que se alimenta do real, ainda que impossível de atingir, do imaginário e do simbólico, pois é isso que nos faz e institui como humanos e nos torna mais humanos. Por isso, precisamos de fazer todas estas viagens a mundos desconhecidos quer no estado de uma certa inconsciência ou consciência adormecida quer nas asas da consciência e do pesamento que, embora nos permitam experimentar e experienciar toda a magia do conhecer, do aprender, do querer e do amar que constitui o nosso grande poder e nos torna mais humanos, termina abruptamente nos braços de um mistério que, porventura, apenas se desvela velando-se na sua própria altura, fundura e abrangência transcedente em um crer que um dom infinita e eternamente gratuito abre e possibilita e que dura apenas no acto puro da sua gratuitidade. Por isso, nem o acordar nem o poder mágico de conhecer, aprender, querer, de pensar e amar o podem fazer voltar aos estados de vigília da consciências dos sujeitos, como no sono. Ficam, com certeza, também, registados no roteiro de viagens a mundos desconhecidos que como humanos que desejam ser, tornar-se mais humanos  não poderão deixar de realizar constantemente.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Como é dar a volta no fim do universo?!

Já fui a vários lands ends na Europa, América, África, Oceânia e depois são os mares e o firmamento. Normalmente dá-se a volta, faz-se inversão de marcha ou toma-se outro meio de transporte para poder ir mais além. Às vezes, também  é preciso fazer manobras quando o espaço é exíguo. No Sul do Chile, disse-se, por graça, que um camião para dar a volta tem que ir à Argentina! E no fim do Universo? Terá que se ir a outro lugar, a outro tempo? Há fim? Há fronteiras? Como são? Às vezes brinco comigo e parto nas asas do pensamento até ao fim do universo, mas será que há fim do universo? E se não houver, como é? Há outras terras, outros mares, há outras energias, forças,  outros meios espirituais para ir mais além?  Que além? Há outros universos? E no fim de todos esses universos como é? Será que no fim de cada coisa, de cada ação, de cada relação, de cada acontecimento há um fim ou, pelo contrários, não será que todos estes fins se ligam e abrem num sem fim?  Que sem fim? E quem está aí e continua para além desse fim dos fins? A experiência que nos fica é que a determinado momento a nossa imaginação, o nosso pensamento não conseguem ir mais além, nem mais fundo e tudo se apaga abruptamente. Será que é esse o lugar ou não lugar em que a mente, a consciência, a razão dão lugar a crença, à fé? Crença, fé em quê, em quem? Em algo, em alguém que evoluiu e continua a evoluir indefinidamente? Mas de onde vem e para onde vai esse evoluir espontâneo e constante? Trata-se de algo absoluto, relativo, finito, infinito? Sabemos que o universo se encontra em expansão. Para onde? Sabemos que os nosso sol se irá extinguir dentro de cinco milhões de anos. e outros sóis, estrelas, cometas, planetas já se extinguiram ou irão extinguir-se dentro uns milhões ou biliões de anos. O que fica e como fica depois? Mas estas questões que aqui alinhamos acerca do imensamente grande colocam-se também com a mesma acuidade em relação ao imensamente pequeno no que concerne às coisas, aos acontecimentos, às ações existentes e possíveis. Será que a resposta a estas interrogações terá que ser procurada na direção do imensamente inteligente? Que é ser imensamente inteligente?  Quem é esse imensamente inteligente e poderoso?  O Primeiro Motor?  A Suprema Ideia de Bem? O Ser Perfeito? O Infinito? O Supremo Arquiteto? O Ser? Deus? Um Deus da Razão? Um Deus Infinitamente Bom, Paciente e Misericordioso a que apenas a fé revelada, em Jesus Cristo, dá acesso?  Um Deus que é Pai de tudo e de todos, Criador? Para questionar todas estas interrogações, este era o livro que gostaria de escrever não apenas à luz desse poder mágico de conhecer e aprender que nos habita mas também através dessa abertura mística à fé que nos possibilita um outro poder, porventura, na fronteira do humano, crer e amar que nos permite simplesmente dizer: Abba Pater.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Descoberta sobre o conteúdo dos sonhos

Desde há muito, através, sobretudo, do estudo, investigação e experienciação nos domínios da Psicanálise e da Psicologia Profunda se conhece bastante sobre o conteúdo dos sonhos. Ultimamente, uma equipa de investigadores japoneses neurocientistas com o apoio de tecnologias informáticas avançadas deram um passo mais nesse conhecimento e compreensão. A experiência realizou-se no laboratório de Yukiyasu Kamitani, do Instituto Internacional de Pesquisas de Telecomunicações Avançadas (ATR) de Kioto. O Dr. Yuri Kamitani, coordenador do laboratório afirmou que "há muito tempo os humanos se interessam pelos sonhos e seus significados, mas até agora apenas a pessoa que sonha conhece o conteúdo do seu sonho". Talvez esta nova experiência permita conhecer melhor os seus conteúdos e a sua influência nas doenças psicológicas, momentos dramáticos da vida, etc. Estes cientistas obtiveram sinais do sonho de 3 pessoas e procuraram registar as imagens através de um dispositivo que as descodifica durante a fase onírica. Por sua vez, registaram repetidamente a actividade cerebral de 3 pessoas durante a fase do sonho. Na experimentação realizada, sempre que aparecia um sinal de ativividade onírica, era registado e a pessoa acordada para saber que imagem é que ela estava a ver no sonho. A experiência foi repetida 200 vezes por pessoa. Uma base de dados foi montada e a exploração da actividade mental feita por aparelhos de ressonância magnética, pois em 60 a 70% dos casos já se pode prever o sonho e estabelecer  a relação entre os sinais e as imagens. Yuri Kamitani afirmou ainda que os " resultados demonstram que a experiência visual durante o sonho é representada por padrões específicos de atividade cerebral, o que permite decifrar o conteúdo dos sonhos". Será necessário, a partir de agora, ampliar as bases de recolha de dados e tentar chegar a uma nível de predição mais elevado. De qualquer modo, o caminho está aberto e irá, com certeza, ser muito promissor para o estudo e compreensão da atividade onírica e tratamento de situações de uma forma mais objectiva, rigorosa e eficaz. Trata-se, por isso, de uma pesquisa muito interessante e que deve ser reconhecida e aproveitada no futuro, pois, ela poderá facilitar a reconstrução a posteriori através da sequência de imagens da narrativa do sonho, da lógica que lhe está subjacente e dos padrões de conhecimento, de afetos e volições concientes, subconscientes e inconscientes em que assenta. O coodenador e a equipa estão de parabéns.
(Tive acesso a esta notícia em 5/4/2013, pela comunicação social).

    

 

domingo, 31 de março de 2013

A partícula de Deus

Os cientistas voltaram, de novo, à discussão sobre o bosão de Higgs ou também conhecido pela chamada partícula de Deus, uma partícula elementar bosônica prevista pelo Modelo Padrão de partículas, teoricamente surgida logo após ao Big Bang. Trata-se de uma peça que,  ultimamente, foi melhor conhecida e retomada para a compreensão da estrutura da matéria e do começo e expansão do universo. O pretexto, desta vez, foi o de uma foto do universo uns trezentos mil anos após o Big-Bang. A discussão é travada ao nível puramente científico e, por isso, apesar da informação extraordinária, entretanto acumulada e melhor compreendida, as grandes interrogações permanecem todas em aberto  sem uma verdadeira resposta. Trata-se apenas de mais uma narrativa, um texto que em vez de revelar tapa e, de certa forma, pretende calar as questões maiores que desde sempre se colocaram nos domínios da cosmologia e da astrofísica: e antes do Big-Bang, como se apresentava a realidade? Uma matéria imensamente concentrada? E o espaço e o tempo eram parte integrante dessa concentração, como? Essa realidade imensamente concentrada existiu desde sempre, era eterna no tempo? E o espaço como era?  Era matéria e energia, tempo e espaço, não tempo e não espaço? Sem enfrentar a exigência e o despojamento mental para introduzir o verbo "criar" na tentativa de explicação e compreensão, em toda a sua força, simplicidade e consequências, todas respostas esbarrarão com uma petição de princípio que compromete e, em certa medida, anula toda e qualquer tentativa de resposta por mais inteligente, honesta e esclarecida que pareça. É essa, pelo menos, a minha modesta convicção, neste momento, e também aquela que, em boa medida, confirma a ideia que tinha quando há mais de 40 anos leccionei uma disciplina de coslogogia científica no ensino superior, muito embora o estado da ciência e do conhecimento fossem, nessa altura, bem diferentes. Relativamente, porém, a essas questões fundamentais, julgo, que, efectivamente, muito pouco se andou. Uma coisa é certa, também aqui "o poder mágico de conhecer e aprender" assumirá uma primacial relevância se não se perderem de vista os limites das suas margens reconhecendo que, no fundo, a realidade é insondável e o ser humano por mais inteligente e evoluído que seja não a poderá jamais definir e muito menos esgotar. A narrativa, vinda do fundo do tempo, das civilizações e da cultura, retomada pela Bíblia e "no princípio criou Deus o céu e a terra" e tudo o que existe ou venha a existir, continua de pé. As respostas do desenvolvimento científico e tecnológico, no fundo, não são contraditórias mas precisam de ir mais longe e enfrentar esse grande desafio para o espírito humano que seria o de abrir-se à possibilidade da existência de Deus infinitamente sábio e inteligente, clemente, misicordioso,  bom e todopoderoso que é simplesmente e desde sempre que a cultura judaico-cristão procura guardar e transmitir.




















domingo, 10 de março de 2013

Vai e vem de um eco opinativo que acabava por revelar um enorme círculo de superficialidade

Ao nível da comunicação social e, até, científica e cultural está-se em presença de um vai e vem de um eco opinativo cujo resultado é, de certa forma um enorme e repetitivo círculo de superficialidade, inconsistência e, porventura, muita irresponsabilidade. Vejamos mais de perto a realidade a que nos estamos a referir directamente. A ponta do iceberberg é, sem dúvida, a comunicação social. As tiradas jornalísticas, o comentário, sobretudo o de recorte político e sindical. Um discurso que inunda a opinião pública que, por sua vez, na sua grande maioria, devolve o eco dessa mesma opinião e tende a vazar para as ruas e para as redes sociais que, por sua vez, o vazam num contexto menos estruturado, difuso e, porventura, mais instável e perigoso para a tranquilidade e segurança das sociedades e organizações. Começa a ser um caldo preocupante que as sociedades em crise económica, financeira e social agudizan e avolumam. Mas este círculo de um eco opinativo e contagiante não se restringe ao mundo complexo e difuso da comunicação. A própria pesquisa científica e inovação se resentem e, de alguma forma, repetem esse eco que tende a reproduzir-se indefinidamente e das mais variadas formas, não apenas na produção de cada um dos autores mas também na comunidade científica, em geral. Trata-se não apenas de uma constatação simples e óbvia mas também de uma preocupação que encontra cada vez mais acolhimento sobretudo das pessoas mais atentas e esclarecidas. Urge dar a volta a esta situação embora uma resposta adequada e eficaz ainda não esteja devidamente consciencializada, reflectida e operacionalizada para a sua concretização. Também aqui se requer uma verdadeira magia do poder de conhecer e aprender a que os humanos têm naturalmente acesso. Mas este poder mágico de conhecer e aprender não poderá ser o poder do sofista ou do "aldrabão" dos nossos tempos mas o do sábio e do filósofo na sua tradição mais límpida e despojada.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Será que está a acontecer algo de novo em formação e inovação no ensino superior?


Após vários projectos de investigação em que foi concluído um número considerável de dissertações de Mestrado e Doutoramento e  depois de alguns anos em que me distanciei um pouco mais dessas temáticas e preocupações, uma questão que  me vem, com frequência, ao espírito é precisamente essa:.será que está a acontecer algo de novo em formação e inovação no ensino superior? As respostas que encontro, com base na informação que consigo recolher, não são muito esclarecedoras e convincentes. Tudo continua um pouco no mesmo ponto verificando-se apenas o aumento das burocracias que, porventura, não contribuem para uma maior organização e simplificação do sistema. Aquela transformação inovadora e qualitativa que se pretendia, julgo que se encontra, em boa medida, adiada. É pena mas é a percepção que, neste momento, nos fica.
A reforma de Bolonha  tão badalada parece não ter passado de pura cosmética e começa a ficar desacreditada. Os resultados, pelo menos, deixam muito a desejar em termos de uma formação mais vigorosa e rubusta- É mais espuma que outra coisa e é pena.
Revisitando sites mais metareflexivos sobre as novas tendências no ensino superior (new metatrends in higher education), princípios de 2012, verifico que algo parece começar a mudar rapidamente. Na base dessa mudança estão, em grande medida, as tecnologias mais avançadas da informação e comunicação e, designadamente, as novas gerações de computadores, de telefones, os smarthpones, os iphones, os ipods, os ipads e outras tabletes que irão criar novas formas e novos métodos de conhecer e aprender. Um verdadeiro poder mágico cada vez mais ao alcance de um grande número de potenciais utilizadores. Por isso, os métodos de aprender, investigar, comunicar irão sofrer profundas e significativas transformações. A própria organização e gestão das instituições formadoras e das sociedades irão mudar profunda e rapidamente. Quem não entrar nestas novas carruagens ficará irremediavelmente para trás.
Uma nova cultura educativa exigirá abordagens de conteúdo e metodológicas distintas bem como ritmos, espaços e tempos de aprendizagem e de pesquisa diversos. Mais do que nunca as aprendizagens terão de configurar estratégias e dinâmicas de pesquisa em que os aprendentes serão sobretudo instigados a colocar boas questões sobre as diferentes realidades físicas, biológicas, psicológicas, sociais, culturais na direcção do imensamente pequeno , do imensamente grande e do imensamente consciente em que as nanotecnologias e as nanociências irão, com certeza, abrir perspectivas muito mais promissoras a curto e a médio prazo. São desafios que já se colocam ao homem destes tempos que estão mais próximos do que nunca.
Apesar das densas e ameaçadoras núvens que atravessam os grandes e os pequenos espaços  e  os povos deste planeta, tudo parece estar a transformar-se e a mudar para melhor  mas é preciso que os novos cidadãos deste mundo cada vez mais globalizado e instável  estejam à altura destes tempos  e dos futuros que se avizinham. A educação, a formação e a pesquisa  irão ter, como sempre, um papel muito importante a cumprir e  o ensino superior terá, com certeza, uma palavra especial a dizer na matéria.  Estamos certos  de que isso irá realmente acontecer apesar das dificuldades e problemas com que, neste momento, se debate sobretudo em termos económicos e financeiros.
Continua  a ser muito importante, como em outras grandes mudanças e transformações do passado incutir nos principais  actores de formação e educação uma grande vontade de conhecer e aprender. Trata-se, na verdade, de um verdadeiro poder mágico, dimiúrgico, de inovação  em que  uma grande avidez e uma certa loucura como recomendava e praticava Steves Jobs não poderá deixar de acontecer sob pena de tudo ficar igual ou ainda pior. É esta enércia e imobilismo que será necessário contrariar e afastar constantemente.  Mas isso exigirá também uma mudança de esquemas mentais e de atitude permanente. Tudo isto parece fácil mas não o é de todo e exige discernimento, persistência e determonação.
Onde está o Programa de Bolonha  nas  Universidades? Houve progresso ou regresso? Perguntas que voltam, de novo,  e a que será preciso dar uma resposta  rigorosa e actualizada. Embora não possamos dizer que não tenha havido algum  progresso o facto é que as instituições do ensino superior foram  inundadadas de burocracias  inúteis que vieram consumir muita da energia e do tempo disponíveis dos principais actores  provocando  um certo retrocesso  em muitas iniciativas  que no campo da pesquisa e da formação estavam a acontecer.  Alguns testemunhos que nos chegam de docentes e alunos vão neste  sentido mas será necessário fazer estudos mais pormenorizados para tirar conclusões. A linha de investigação do CIDInE sobre "Docência e Inovação no Ensino Superior - DIES" está a projectar um colóquio para debater  essa temática com os principais actores de instituições do ensino superior envolvidos no programa. As conclusões  poderão originar publicações em revistas da especialidade para que o debate prossiga, se alargue  e possibilite  novas concepções e formas de intervenção  mais adequadas.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Ser resiliente é almofadar-se física, biológica, social e culturalmente para a vida

Com base na etimologia de resiliência, do latim resilio "tornar-se elástico", flexível, reflexivo, ser ou tornar-se resiliente é procurar almofadar-se do ponto de vista físico, biológico, psicológico, social, ético, cultural para enfrentar as situações mais ou menos adversas da vida. Esta "almofadagem" ao longo da vida apresenta níveis e características distintas em função dos diferentes tipos de personalidade e das aprendizagens e contextos socioculturais. Nas sociedades emergentes em que os níveis de stress tendem a tornar-se insuportáveis esta almofadagem é cada vez mais incontornável. A vida das pessoas, das famílias, das sociedades está seriamente ameaçada e pode quebrar. Por isso as pessoas têm necessidade de ser mais resilientes, ou seja, de almofadar-se física, biológica, psicológica, social e culturalmente contra todo o género de agressões a que estão sujeitas no mundo dos nossos dias. Neste almofadar-se, o conhecimento e as aprendizagens, a formação, a educação assumem uma importância primordial, um verdadeiro poder mágico, o único capaz de mobilizar toda a sua energia humana para a ação. Também aqui o desenvolvimento da mente e a sua consciencialização e assumpção por um eu mais inteligente, responsável e livre serão imprescindíveis, pois, a esse nível, essa almofadagem que torna as pessoas mais resilientes e humanas deverá ser comandada, sobretudo, por um eu mais conciente e, por conseguinte, mais sensível, emocional, flexível e livre.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

A coerência e a fundamentação do debate político

Há bastante tempo a esta parte, que me interrogo sobre as razões subjacentes ao debate político e, designadamente, em Portugal, que é aquela situação que conheço mais de perto embora as diferenças no essencial não me pareçam muito grandes. Parece, no entanto, haver uma linha bem nítida entre as direitas e as esquerdas. Enquanto que as direitas ainda aceitam algumas razões das esquerdas quando assentam em dados objetivos e consistentes, as esquerdas não aceitam nada que venha das direitas por mais fundamentado e óbvio que seja. Qual a razão dessa diferença que é substantiva e configura os comportamentos e a própria ação política? Terá a ver com a estrutura e a natureza cognitivas que lhe estão subjacentes? Não me parece. A razão não é, seguramente, de ordem cognitiva mas tática ou a tentativa de controlar o poder político que pelas urnas até agora as esquerdas mais radicais não conseguiram alcançar. Apenas o conseguiu, como sabemos, uma franja mais moderada do centro esquerda com o apoio do centro direita e das direitas.  Isso foi nítido na 1ª  e 2ª eleição de Soares à presidência e em algumas maiorias socialistas aos parlamentos nacional e europeu e às câmaras municipais.  Existem, com certeza,  diferenças impostas por pressupostos ideológicos e políticos mas nem por isso poderíamos negar que não sejam possíveis pontos de convergência que conviria ativar para possibilitar alternativas credíveis de governação ao nível nacional e local. Para isso seria preciso mais realismo e mais verdade na avaliação das políticas e dos sucessos e insucessos das mesmas. Quando se parte de posições extremadas, em que de um lado está tudo está mal, tudo é negativo ou está errado e do outro se apresenta uma visão de certa forma oposta sem atender ou reconhecer os pontos mais débeis, algo está a falhar e precisa de ser corrigido rapidamente para re-etabelecer um equilíbrio  pro-ativo e atualizado que possibilite alternativas credíveis e democráticas que não comprometam o progresso e o bem-estar do país. Para isso, urge incentivar mais criatividade e rigor na ação e na governança bem como nas medidas a adotar  que apenas  um bom discernimento apoiado num poder mágico de conhecer e aprender com a experiência e as boas práticas do passado e a leitura correta e contextualizada  das situações e dos problemas do presente poderão garantir uma verdadeira aposta no futuro. É por isso que insistimos neste poder mágico de conhecer e aprender que deverá presidir a toda e qualquer deliberação, decisão e ação humanas como segredo para o sucesso das sociedades emergentes. É por aí que será possível encontrar a boa direção para resolvermos os enormes problemas que afligem as sociedades e as organizações dos nossos dias e re-encontrar os princípios e os valores cívicos e éticos que lhe devem estar subjacentes. As novas gerações terão de consciencializar-se desta necessidade e a formação do novo cidadão não poderá eximir-se dessa responsabilidade que a pesquisa científica e tecnológica mais avançada aconselha e exige.