segunda-feira, 6 de maio de 2013

Viagem ao fundo de cada coisa existente ou possível

Todos os dias, no enlevo do sono, "fazemos uma viagem a um mundo desconhecido", diria Teresa Paiva. Efectivamente, enquanto dormimos não sabemos nada por onde andamos e que mundos visitamos. O mesmo acontece em situações de coma e outros estados biopsíquicos em que, na verdade, não guardamos nada que posteriormente possamos lembrar e reproduzir. Na viagem ao fundo das coisas existentes e possíveis que a consciência e  o pensamento nos possibilitam realizar acontecem normalmente duas coisas: a primeira em que descemos os diferentes patamares molecular, atómico, subatómico, smplesmente energético com matéria ou antimatéria mais ou menos densa e pesada em espaço cada vez mais rarefeito e etéreo e a segunda em que nos defrontamos com a sensação repentina em que tudo escurece que embora não nos impeça de continuar a viagem, como no sono, não sabemos mais onde fomos e por onde andamos. Só sabemos que regressamos sempre ao nosso ponto de observação, ao estado de vigília com as mãos cheias de nada. Ou melhor um nada cheio de tudo que nos instiga constantemente a repartir, como no sono, para saciar a nossa fome existencial de requilíbrio físico, biológico, psíquico, cultural, humano. Na verdade, somos uma espécie de coisa que se alimenta do real, ainda que impossível de atingir, do imaginário e do simbólico, pois é isso que nos faz e institui como humanos e nos torna mais humanos. Por isso, precisamos de fazer todas estas viagens a mundos desconhecidos quer no estado de uma certa inconsciência ou consciência adormecida quer nas asas da consciência e do pesamento que, embora nos permitam experimentar e experienciar toda a magia do conhecer, do aprender, do querer e do amar que constitui o nosso grande poder e nos torna mais humanos, termina abruptamente nos braços de um mistério que, porventura, apenas se desvela velando-se na sua própria altura, fundura e abrangência transcedente em um crer que um dom infinita e eternamente gratuito abre e possibilita e que dura apenas no acto puro da sua gratuitidade. Por isso, nem o acordar nem o poder mágico de conhecer, aprender, querer, de pensar e amar o podem fazer voltar aos estados de vigília da consciências dos sujeitos, como no sono. Ficam, com certeza, também, registados no roteiro de viagens a mundos desconhecidos que como humanos que desejam ser, tornar-se mais humanos  não poderão deixar de realizar constantemente.

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