terça-feira, 25 de setembro de 2012

Conhecimento e honestidade intelectual

Tenho insistido que conhecer e aprender é um verdadeiro poder mágico do ser humano.  Hoje essa realidade é cada vez mais evidente. Também sabemos que o conhecimento e a aprendizagem são actividades transversais a toda acção humana. A sua estrutura e dinâmica pressupõem três elementos essenciais: sujeitos com capacidade cognitiva, objectos susceptíveis de ser conhecidos e a união ou acto entre sujeito e objecto ao nível da sensação/percepção, da imaginação, da idealização ou conceptualização, do juízo ou da afirmação e do raciocínio. Se esta união ou acto não se verificar o conhecimento ou a aprendizagem não poderão acontecer. Mas a qualidade deste poder mágico, demiúrgico, transformador não depende apenas da simples união entre o sujeito cognoscente e o objecto ou a realidade conhecida ou  a conhecer. O conhecimento e a aprendizagem não poderão reduzir-se a meros automatismos reflexológicos, de condicionamentos ou hábitos mais ou menos complexos. Precisa, sobretudo, de uma grande disponibilidade e acolhimento mental, consciente por parte do sujeito para assimilar, acomodar e equilibrar em si os estímulos provenientes do mundo dos objectos existentes interna ou externamente e possíveis que desse modo enviam sinais da sua presença seja qual for o lugar e a distância a que se encontrem, a velocidades elevadíssimas em função da sua natureza sonora, luminosa ou outra. É maravilhoso imaginar toda essa variedade de sinais de presença de realidade existente que nos chega constantemente  e, de alguma maneira, entra em nós e fica a fazer parte de nós enquanto sujeitos conscientes, abertos e disponíveis. É para esta maravilha do poder mágico de conhecer que possibilita toda a aprendizagem que gostaria de chamar a atenção. Este acolhimento, porém, pressupõe da parte do sujeito uma grande honestidade intelectual,  mental o que nem sempre infelizmente se verifica. Basta dar um passeio breve pelo mundo dos homens, pelos seus valores, pelas suas concepções ideológicas, pelas suas crenças, pelos seus comportamentos para encontrar enormes dissonâncias e contradições. Fala-se de diálogo, fazem-se promessas, organizam-se encontros para os povos se entenderem e estabelecerem consensos e o que se vê são dissensos, confusão e violência. Por isso, talvez seja necessário levar mais longe e mais fundo este poder mágico de conhecer e aprender através de uma formação, de uma educação mais cidadã, mais comunitária, mais rigorosa, séria, tolerante, deversificada, mais humana. Trata-se de uma necessidade e de um desígnio da sociedade emergente que não poderá ser adiado por mais tempo mas que terá que assentar em mais e melhor conhecimento e homestidade intelectual, sobretudo, dos principais actores sociais e políticos. 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A aventura de novo ano lectivo

Por estes dias, em todos os graus de ensino, uma nova aventura de conhecer e aprender teve início nas escolas e nas instituições do ensino superior. O grande objectivo deveria ser o de "empoderar" os alunos e professores de novos conhecimentos, de novas aprendizagens, de um verdadeiro poder mágico para mudar e transformar as coisas, as situações, os comportamentos e as vidas das pessoas para enfrentar as realidades de uma sociedade emergente em que as dificuldades e os desafios se apresentam e avolumam de dia para dia. Será que é isso, de facto, o que está no espírito dos principais actores, das respectivas instituições e das políticas que lhe estão subjacentes? Não é claro e muito menos com a intensidade e o envolvimento necessário e desejável para atingir tão grande desígnio. Sabemos, no entanto, que o problema não é apenas dos países com mais dificuldades ou em crise profunda mas em todo o lado. Falta, efectivamente, perceber o sentido e o papel do conhecimento e da aprendizagem na acção humana como realidades transversais sem as quais as emoções, os setimentos e o comportamento consciente do ser humano não é possível.
É preciso, pois, acolher e trabalhar desde o começo, com afinco e determinação para que aconteça uma nova era de esperança e confiança no futuro que, com certeza, não poderá ser desligada desse poder mágico de conhecer e aprender que é próprio das pessoas. Mais um ano lectivo, de formação, de construção de conhecimento e aprendizagem para continuar a transformar o mundo dos homens é o que realmente terá que estar na primeira linha de acção de todos aqueles que não desistem e persistem nesta grande aventura de ser e de tornar-se mais humanos.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O Professor intelectual: formação, identidade e papel profissional na educação contemporânea

Este tema, embora não seja novo, coloca-nos, hoje, enormes desafios. Na verdade, temos andado entretidos com diferentes rótulos, por vezes, de recorte um tanto ou quanto metafórico sobre o professor, a saber: professor treinador, professor arquitecto ou engenheiro do humano, professor pesquisador, professor guia, professor transformador, professor mediador, etc. Tem-nos passado um pouco ao lado uma designação mais consistente e que se afunda no tempo, a de professor intelectual inspirado na ironia e na maiêutica socráticas. Efectivamente, o professor é antes de mais um intelectual no verdadeiro sentido da palavra que se liga estreitamente com as actividades do espírito, da inteligência, do entendimento, do conhecimento, do saber, da cultura. Pelos tempos fora, o professor como actor social foi sempre alguém que procurou desenvolver a inteligência, o entendimento, o raciocínio e, consequentemente, a ciência, o conhecimento nas suas diversas formas e níveis, em si próprio e nos seus alunos em termos abstractos e concretos ou contextualizados para a melhor compreensão da realidade dos objectos, dos acontecimentos e das relações, das pessoas e da sua formação e desenvolvimento. Julgo que este continuará a ser o seu principal papel a desempenhar na educação contemporânea e futura e que deverá configurar a sua identidade. Por isso, a sua formação terá que realizar-se com elevada qualidade, empenho, exigência e rigor a fim de poder cumprir a sua missão de mentor, de mediador e transformador social, de educador, de construtor de cidadania. Talvez seja este o seu verdadeiro poder que lhe permite também empoderar os seus alunos e ser reconhecido pessoal e socialmente. Será esse também o grande desafio e, porventura, o desígnio, que se coloca, hoje, às instituições de formação de professores dos nossos dias: preparar bem estes profissionais através do estudo, da reflexão, da pesquisa, da ciência, da tecnologia e da arte para estarem à altura destes tempos e dos futuros. É sobre isso que nos iremos interrogar e reflectir com os potenciais leitores sobre os pontos que a seguir sucintamente poremos à sua consideração.


        O professor intelectual: o que é?

         Esta é a primeira grande questão que se nos coloca e que vem já do fundo tempo: qual a verdadeira identidade do professor? A de um pensador solitário? De um pesquisador? De um idealista? De um sábio? De um amigo do saber? De um técnico? De um cientista? De um tecnólogo? De um actor? De um comunicador? De um pedagogo? De um treinador? Talvez, a resposta deva passar por todas essas dimensões e pela sua intersecção. Nesta linha de pensamento, poderíamos perguntar mais em concreto: não será que a atitude, a estratégia ou dialéctica, digamos, o método socrático continua, hoje, e, porventura amanhã, a ser aquele que melhor configura o que é ou deveria ser um professor intelectual? Um professor intelectual seria alguém que cultiva o desenvolvimento da inteligência, do entendimento, da razão humana como sendo os níveis mais evoluídos da realização da mente consciente tal como ela se apresenta à luz dos desenvolvimentos científicos mais avançados dos nossos dias em que a pesquisa e os estudos de António Damásio e sua equipa merecem um lugar de destaque. Conhece-te a ti mesmo porque o conhecimento, a sabedoria está dentro de ti repetia Sócrates insistentemente aos seus discípulos e adversários seguindo a tradição dos sábios e dos amigos do saber da Grécia Antiga. De acordo com os Diálogos de Platão, Sócrates, como um actor central de toda a narrativa, procurava atingir esse objectivo através da bem conhecida dialéctica da ironia e da maiêutica, ou seja, conduzindo através do questionamento as pessoas, sobretudo, as mais convencidas e conhecedoras entre as quais se encontravam os sofistas - uma espécie de advogados do tempo que aceitavam defender todas as causas e estavam disponíveis para responder com desasombro a todas as questões - a reconhecerem a sua ignorância (ironia) para a partir daí os ajudar a dar à luz o verdadeiro conhecimento, a sabedoria (maiêutica). Julgo que ainda hoje esse é o método mais eficaz a que todo o intelectual e, naturalmente, o professor não poderá deixar de prestar atenção na acção e interacção com os seus alunos. Creio ainda que um professor intelectual seria sobretudo aquele que através do questionamento deveria interrogar-se constantemente e instigar os alunos a questionarem-se a sós e em grupo sobre a realidade dos objectos, das pessoas, dos acontecimentos e das relações nos contextos de educação, de cultura, de vida.  
A este propósito, o Professor Milton Santos, na Conferência de Abertura do IX Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino, realizado em Águas de Lindóia - SP, de 4 a 8 de maio de 1998 sobre  O professor como intelectual na sociedade contemporânea,  ao fazer a caracterização do intelectual em que o professor deveria incluir-se apresentava uma concepção bem interessante e muito inteligente ainda que discutível que gostaria de partilhar com os potenciais leitores, a saber:
O intelectual é aquele que resiste, e para resistir tem que ser só. É a solidão a grande arma com a qual podem continuar sendo intelectuais. Cada vez que dizemos "nós", afastamo-nos do ideal do intelectual, porque estamos manifestando a necessidade do aplauso ou da cooptação. O intelectual não é aquele que busca aplauso, mas o que busca a verdade e que fica com ela, a despeito do que sejam, naquele momento, as preferências dos seus contemporâneos. 
É fácil entender porque, no fim do século XX, quando a maior parte do trabalho humano se tornou trabalho intelectual, estreita-se a possibilidade de ser intelectual. Por isso, as faculdades e as casas de ensino abrigam cada vez mais letrados e cada vez menos intelectuais. Ser professor não é obrigatoriamente ser intelectual, sobretudo, porque é, freqüentemente, exercer uma repetição, seja como um porta-voz da produção alheia, seja através de uma forma repetitiva de produzir. A globalização agrava essa situação porque traz como uma de suas marcas a difusão de um pequeno número de autores bafejados pelo mercado, e que se instalam no mundo como os atores centrais, e dos quais vem a certificação de validade do conhecimento dos outros. Segundo tais parâmetros, nossa produção intelectual é considerada menos vigorosa, menos forte, menos capaz, menos significativa que a produção de fora, chamada equivocadamente de internacional, quando ela é apenas estrangeira. Estou me referindo às formas como a carreira se organiza neste país, levando-a a tornar-se, ao fim e ao cabo, uma grande inimiga da produção intelectual. Devemos, urgentemente, erguer nossa voz, para reclamar das autoridades universitárias que, entre outros problemas atuais, revejam a questão da carreira, dentro de um quadro mais geral, mais abrangente, agindo como intelectuais, e não como administradores. 
Numa universidade autêntica, os administradores apenas governam as coisas. Os intelectuais são inadministráveis. Por isso, eles são o fermento de uma verdadeira vida acadêmica, porque são movidos pela idéia de universidade e pela fidelidade a uma dada universidade. Não há universidade que possa crescer sem crítica interna. Não basta repudiar a crítica externa. É preciso todos os dias exercitar a crítica interna para sermos verdadeiros intelectuais. De outro modo, estaremos limitados à produção e à prática de meias-verdades, ou de verdades interesseiras, que conduzem às teorias utilitárias e ao império das razões utilitaristas fundadas nas exigências do mercado. Daí, a tendência a transformar todo tipo de ensino em ensino profissionalizante. Quantos de nós, ensinando na pós-graduação, já não ouviu esta frase: "professor, eu não vou ao seu curso, porque o seu curso não interessa à tese que eu estou escrevendo". É exatamente o utilitarismo levado às últimas conseqüências. Com certo ceticismo, pode-se até sorrir, ouvindo isso; e com certo cinismo, pode-se até sorrir complacentemente, quando se precisa do voto do estudante para ser eleito para alguma coisa. Só que esta forma de conivência já é uma demonstração da renúncia a ser intelectual. Continua-se sendo professor, mas se renuncia a ser intelectual. Quando renunciamos à crítica deixamos também, que, dentro de nós, produza-se o assassinato de um cidadão. Este, dotado de existência política, somente pode sê-lo plenamente, ao entender criticamente o mundo em torno. Se assim não entendo o mundo em torno, tam pouco sei quem sou, nem posso propor outro mundo, e passo a aceitar comodamente tudo que me mandam fazer. É assim que se criam homens instruídos, mas não educados, desinteressados de qualquer discussão mais profunda, subordinados ao pensamento técnico e à lógica dos instrumentos. Mantendo uma fé cega nos ritos já dados, nos caminhos preestabelecidos.
        Esta exposição crítica e frontal do Professor Milton Santos, não obstante, ter sido proferida há uns 15 anos, julgo ser plenamente actual e nos colocar diante de uma problemática que se reveste da maior importância nos nossos dias para recolocar a questão da identidade pessoal e profissional do professor ou falta dela na sociedade contemporânea e futura. Poderemos discordar mas julgo que a sua crítica vai no sentido certo e urge retomar o seu questionamento, nos nossos dias, se quisermos descobrir a verdadeira identidade do profissional da educação, o professor. Tem-se estudado, pesquisado e escrito muito, nestes últimos 15 ou 20 anos sobre a identidade do professor e a sua construção bem como a de outros profissionais nas ciências sociais e, designadamente, no âmbito da psicologia e da sociologia de que destacaria os trabalhos de Amélia Lopes e de Alberto Albuquerque Gomes, entre muitos outros. Julgo, no entanto, que fica bem patente que uma certa imagem social do professor foi, porventura, aquela que mais se degradou nas últimas duas décadas. Conviria, talvez, explicitar um pouco mais de que  imagem se tratava para poder avaliar as perdas ou os ganhos que se verificaram. Antes, o professor, sobretudo ao nível do magistério e dos ensinos básicos e secundário, era visto como uma autoridade social privilegiada no seio das comunidades quer do ponto de vista do saber, quer do ponto de vista ético e cívico. Isso acabou, mas a missão do professor continua. Quer dizer que essa imagem não era essencial para determinar a identidade de um professor. Urge, pois, continuar não só o trabalho de descoberta e de construção daquilo que integra a verdadeira essência da identidade do profissional da educação mas sobretudo proceder a uma desconstrução e reconstrução dessa mesma identidade face aos novos papéis que o professsor terá que desempenhar no presente e no futuro. Antes, apenas o professor universitário era visto como um académico, um intelectual, um investigador, ultimamente, com o desenvolvimento da pesquisa, esta concepção tem-se ido alterando. Caberia, no entanto, perguntar qual o sentido dessa alteração. Talvez seja a altura de perguntar também o que está a acontecer com o professor universitário. Após um tempo em que se deu bastante importância à docência que se tornou objecto de pesquisa e originou a análise e discussão crítica bem como a consequente  publicação de trabalhos científicos em revistas e a discussão de relatórios e comunicações em fora nacionais e internacionais, tenho sentimento de que se está a recuar deixando para segundo plano o trabalho com os alunos e o seu acompanhamento directo para regressar a centrar a preocupação com a carreira científica, a participação em congressos e seminários nacionais e internacionais e a publicação de artigos em revista de referência e mais pontuadas cientificamente ao nível nacional e internacional. Assim os professores voltam novamente a fechar-se sobretudo nos seus gabinetes de trabalho a preparar e escrever “papers” para apresentar em eventos e para publicação em vez de se preocuparem com os seus alunos ou relegando-os para segundo ou terceiro plano. Não se trata propriamente do intelectual solitário de que falava Milton Santos mas de um intelectual interesseiro e globalizado que atende sobretudo à carreira e ao desenvolvimento do seu currículo científico e à divulgação do seu trabalho entre os pares e junto da comunidade científica. Compreende-se a atitude nestes novos contextos em que o salve-se quem puder se tornou a palavra de ordem. Porém, resgatar o pesquisador, o cientista, o intelectual  desinteressado bem como professor intelectual, o docente mais ou menos solitário mas sem deixar de estar em interacção permanente com os seus alunos em equipa que procura conhecer e aprender, descobrir a realidade, o mundo e transformá-lo, é preciso e é urgente. É a nova identidade que os profissionais de educação contemporânea e futura não poderão descurar nunca. É essa, pelo menos, a minha convicção. 



        O papel profissional do professor na educação contemporânea e futura
       
        Não é fácil abordar este tema, não obstante ele se revestir da maior importância para os professores na sociedade contemporânea e futura. Como referíamos acima, além de ser um intelectual, um prático, um educador, um guia, um pesquisador, um comunicador, um tecnólogo, um pedagogo, o professor terá de desempenhar tudo isto como um verdadeiro profissional. É esse o papel que a sociedade lhe exige em troca de um salário ainda que nem sempre muito compensador.
        Aos meus olhos o papel profissional do professor na educação contemporânea e futura, como, aliás, aconteceu no passado, não pode ser desligado do processo de construção da sua identidade. Caberia pois identificar quais os elementos mais relevantes comuns e distintos que deverão integrar essa identidade estejam eles mais associados a padrões que tenham a ver com o estatuto, com os comportamentos, com os valores ou com as expectativas. É importante certamente o estatuto do professor na educação contemporânea e futura mas não o é menos saber que estatuto. Retomando a ideia do professor intelectual parece que o professor deverá ser respeitado como alguém que domina bem as matérias da especialidade e que ajude o aluno a aprender através de um processo de pesquisa que o conduza à descoberta da realidade e análise e síntese da informação recolhida com vista à sua explicação e compreensão. Mas é igualmente importante para que este objectivo seja atingido que seja também um pedagogo, um psicólogo, um sociólogo, um educador que conhece os seus alunos, valoriza e optimiza todas as suas possibilidades, os ajude a sair de si mesmos e a desenvolver-se progressivamente dando-lhes poder,  empoderando-os ao nível do conhecimento, da afectividade e da relação para que se tornem autónomos e donos do seu próprio destino. Que seja também conhecedor dos métodos, das estratégias mais adequadas para atingir esses objectivos.
 

Questões
Como pode um professor ser um intelectual com um horário de 40 horas por semana?
Será possível defender o professor intelectual nas sociedades dos nossos dias no meio dos relativismos e de todos os jogos de interesse, de poder e de oportunismo que nos invadem?
Não será uma fuga para a frente  querer refugiar-se, de novo, em idealismos passados ou utopias? 

        Referências

Law, M. (2001). Os professores e fabricação das identidades. Currículo sem fronteiras. V. 1, n. 2, pp. 117-130, jul/dez. 2001.
Lopes, A. (2001). Libertar o desejo, resgatar a inovação: A construção de identidades profissionais docentes. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional.
Lopes, A. (2001). Professora e identidade: Um estudo sobre a identidade social de professoras portuguesas (Vol. 25). Porto: ASA.
Loureiro, C. (2001) A docência como profissão: Culturas dos professores e a (in) diferenciação profissional. Lisboa: Asa.
Meksenas, P. (2003). Existe uma origem da crise de identidade do professor? Revista Espaço Acadêmico.Consultado em 10 de janeiro de 2005. http://www.espacoacademico.com.br/031/31cmeksenas.htm.
Santos, M. (1998). O professor como intelectual na sociedade contemporânea. Conferência de Abertura do IX encontro nacional de Didática e Prática de Ensino,
 realizado em Águas de Lindóia - SP, de 4 a 8 de maio de 1998, pp. 5-7. http://www.fecap.br/extensao/artigoteca/Art_016.pdf
Ávila Lima, J. M. O Papel de professor nas sociedades contemporâneas
http://www.fpce.up.pt/ciie/revistaesc/ESC6/6-3-lima.pdf


PS

Este texto foi escrito para a Sessão de Abertura do ano lectivo 2011-2012 da Gaduação e Pós-graduação em Educação na PUC de Goiás, que teve lugar no Teatro da Universidade,em 27 de Agosto de 2012, perante algumas centas de estudantes de graduação e pósgraduação e umas dezenas de professores. 

A sua apresentação foi feita de uma forma mais livre a partir de alguns slides preparados para o efeito. Não resultou muito bem. O contexto não ajudou e o horário ficou escasso e tardio. Um grupo jovem de teatro tinha actuado anteriormente e a transição dos esquemas mentais da audiência parece que ainda não se tinham adapatdo suficientemente para a tarefa que se seguia . Impunha-se, talvez, uma outra acção, porventura, em diálogo mais aberto e questionante com a audiência, a saber:
1. O que é ou deveria ser para vocês um professor intelectual? 
Um pedago? Um pesquisador? Um cientista? Um filósofo ou amigo do saber? Um enginheiro ou arquitecto do humano? Um treinador? Um mediador? Um transformador? Um actor? Um comunicador? Um tecnólogo? Outra coisa? Tudo isso?
2. O que faz ou deveria fazer um professor intelectual?
Ensinar ou ajudar a aprender? Aprender? Pesquisar? Mediar? Transformar? Estudar? Reflectir? Ser criativo?  Outra coisa? Tudo isso?
3. Como deveria ser formado esse professor intelectual?
Como até agora? De outra forma? Como?

Talvez desta forma a provovação dos artistas jovens que vinha da acção anterior e resultou pudesse ter sido continuada na actuação  que se seguiu ainda que num registo diferente. Seria uma hipótese que não chegou a ser tentada e foi pena. Talvez o peso institucional em que nos encontrávamos o tenha desaconselhado e, por isso, acabou por não acontecer e a história fez-se de outro jeito, porventura, menos espetacular gorando as elevadas expectivas que foram criadas.


  




segunda-feira, 14 de maio de 2012

Conhecer e aprender como magia

Tomei conhecimento pela net da resenha que o Professor Pedro Demo teve a amabilidade de publicar na revista da UnB Linhas Críticas, vol. 17 nº 34, 2001,  pp. 643-654 sobre o meu livro "O Poder Mágico de Conhecer e Aprender". Senti-me muito honrado por um Professor como Pedro Demo que simplesmente não precisa de apresentações se ter interessado por este livro e, sobretudo, pela leitura tão perspicaz e minuciosa que fez do mesmo não apenas interpretando com todo o rigor a mensagem que se pretendia passar mas também enriquecendo-a e ajudando a explicitá-la e a clarificá-la. Embora não deva fazer qualquer apreciação, por razões óbvias, não posso deixar de agradecer este gesto de um colega por quem tenho muita consideração e apreço académico. Bem haja, Professor Pedro Demo, pois, julgo que é, com certeza, uma mais valia para o autor e um bom incentivo para os potenciais leitores do livro.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Conhecer, sentir, agir

Quando insistimos no poder mágico do conhecimento queremos dizer simplesmente que não é possível sentir e agir ao nível biológico, psicológico, social e cultural sem conhecer. A acção de conhecer é transversal a toda a espécie de actividade ou manifestação afectiva, uma condição sine qua non. Sem conhecimento não é possível qualquer tipo de reacção sensorial, inteligente, consciente, racional, emocional. Por isso, nunca será demais repetir que conhecer é um verdadeiro poder mágico, dimiúrgico, transformador sem o qual não é possível qualquer aprendizagem, inovação e invenção científica, artística e tecnológica. Hoje, como ontem, este continua a ser o grande desafio para uma sociedade do conhecimento que aprende e se transforma rápida e profundamente. Os meios, os processos, os métodos, as estratégias para atingir esse objectivo é que são bastante diferentes nestas sociedades abertas e globalizadas. A informação está cada vez mais acessível através da net, dos telemóveis, das tabletes mas é preciso assimilá-la, acomodá-la, equilibrá-la, adaptá-la, gerí-la criticamente e transformá-la em conhecimento, em acção e decisão para a resolução dos verdadeiros problemas do nosso mundo que, por outro lado, se encontra cada vez mais à deriva. É preciso, efectivamente, que o conhecimento assuma um verdadeiro poder mágico, na escola, na profissão, na vida.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Um coma consciente mal diagnosticado?

Tenho reflectido bastante sobre um caso de coma bem conhecido em Aveiro no meio hospitalar e da Academia Aveirense visto tratar-se do Administrador dos Serviços da Acção Social, Dr. Helder Castanheira, após uma curta visita que lhe fizemos numa casa de re-habilitação, na Tocha.
Naquela altura, após dois ou três dias de ter saído do coma, o Dr. Helder Castanheira, conseguia reproduzir as conversas de técnicos e profissionais de saúde bem como as pessoas e as falas de visitas especiais que tivera durante o estado de coma em que se encontrava inteiramente imobilizado mas em que podia ver o tecto para onde esteve virado durante esse tempo. Lembrava-se até das conversas oportunas e inoportunas dos técnicos de saúde na altura em que deliberavam se deviam desligar a máquina ou dar-lhe mais umas chances de vida. Desconheço as causas que terão provocado este estado comatoso e que as ressonâncias magnéticas poderão, com certeza, ter evidenciado, mas do que não tenho grandes dúvidas é de que o Dr. Helder Castanheira, esteve consciente durante muito desse tempo a avaliar pelo relato que nos fez da situação. De contrário, todo esse período teria sido um grande apagão psicológico, como aconteceu, ao longo do tempo, em outros muitos comas conhecidos na literatura da especialidade e não só, não lhe permitindo no pós-coma, embora ainda completamente imobilizado do lado esquerdo, evocar, recordar e descrever com muita precisão e serenidade o que sentiu durante todo esse período com ansiedade, pânico e, até, uma certa indignação sem nada poder fazer nem comunicar embora se estivesse a dar conta do que lhe estava a acontecer e a sentir que a sua vida estava completamente dependente do juizo dos técnicos.
Este caso terá de ser analisado mais em pormenor em função dos relatos construídos algum tempo após ter saído do coma confrontados com os autores, uma vez que se recordava das falas e das pessoas que as proferiram.
De qualquer modo, parece que estamos em presença de um coma consciente, muito semelhante a um outro de um cidadão belga só que este permaceu em coma durante 23 anos.
Embora nos interesse mais directamente a parte gnoseológica deste caso. há aspectos que não poderemos deixar de sublinhar, neste caso, aliás referidos com ênfase, pelo Dr. Helder Castanheira que se prendem com a dimensão diontológica dos profissionais de saúde em situações desta natureza.

quinta-feira, 22 de março de 2012

A nova escola, os novos métodos e a nova "magia" de aprender

Partindo da hipótese que, na dinâmica da interação do arco reflexo entre sujeito, objecto e ulteriores mediações interiores que se foram desenvolvendo entre o sujeito e o objecto suportados por diferentes neurónios transmissores, receptores, a consciência continua a desenvolver-se, porventura, ainda mais aceleradamente, como se pode ler em António Damásio:
“Podemos conceptualizar o cérebro como sendo uma elaboração progressiva do que começou como um simples arco reflexo: neurónio NEU apercebe-se do objecto OB e informa o neurónio ZADIG, o qual impulsiona a fibra muscular MUSC e provoca movimento. Mais à frente na evolução seria acrescentado um neurónio ao circuito do reflexo, a meio caminho entre o NEU e o ZADIG. Trata-se de um interneurónio e iremos chamar-lhe INT. O seu comportamento faz com que a reacção do neurónio ZADIG deixe de ser automática. O neurónio ZADI apenas reage, por exemplo, se o neurónio NEU disparar com toda a sua força sobre ele e não se o neurónio ZADIG receber uma mensagem mais fraca; uma parte essencial da decisão fica nas mãos do interneurónio INT.” (2010:381-82),
na nova escola será preciso, porventura, não perder de vista este pressuposto em relação aos novos métodos de estudar e pesquisar e uma nova "magia" de conhecer e aprender que o tornar-se mais humano no futuro irá exigir. Julgo que, o ser humano se encontra em desenvolvimento constante e nesse desenvolvimento está a adquirir mais capacidade neurocerebral e a ser  mais consciente, livre e responsável. São, pelo menos, esses os indicadores das pesquisas em curso sobre o assunto. A curto e a médio prazo a escola terá certamente que acertar o passo por estas novas tendências ou ficará irremediavelmente desactualizada e parada no tempo contrariando a dinâmica, porventura, dialéctica, de um aperfeiçoamento evolutivo que parece estar inscrito na própria essência e natureza da realidade existente e possível.