domingo, 31 de março de 2013

A partícula de Deus

Os cientistas voltaram, de novo, à discussão sobre o bosão de Higgs ou também conhecido pela chamada partícula de Deus, uma partícula elementar bosônica prevista pelo Modelo Padrão de partículas, teoricamente surgida logo após ao Big Bang. Trata-se de uma peça que,  ultimamente, foi melhor conhecida e retomada para a compreensão da estrutura da matéria e do começo e expansão do universo. O pretexto, desta vez, foi o de uma foto do universo uns trezentos mil anos após o Big-Bang. A discussão é travada ao nível puramente científico e, por isso, apesar da informação extraordinária, entretanto acumulada e melhor compreendida, as grandes interrogações permanecem todas em aberto  sem uma verdadeira resposta. Trata-se apenas de mais uma narrativa, um texto que em vez de revelar tapa e, de certa forma, pretende calar as questões maiores que desde sempre se colocaram nos domínios da cosmologia e da astrofísica: e antes do Big-Bang, como se apresentava a realidade? Uma matéria imensamente concentrada? E o espaço e o tempo eram parte integrante dessa concentração, como? Essa realidade imensamente concentrada existiu desde sempre, era eterna no tempo? E o espaço como era?  Era matéria e energia, tempo e espaço, não tempo e não espaço? Sem enfrentar a exigência e o despojamento mental para introduzir o verbo "criar" na tentativa de explicação e compreensão, em toda a sua força, simplicidade e consequências, todas respostas esbarrarão com uma petição de princípio que compromete e, em certa medida, anula toda e qualquer tentativa de resposta por mais inteligente, honesta e esclarecida que pareça. É essa, pelo menos, a minha modesta convicção, neste momento, e também aquela que, em boa medida, confirma a ideia que tinha quando há mais de 40 anos leccionei uma disciplina de coslogogia científica no ensino superior, muito embora o estado da ciência e do conhecimento fossem, nessa altura, bem diferentes. Relativamente, porém, a essas questões fundamentais, julgo, que, efectivamente, muito pouco se andou. Uma coisa é certa, também aqui "o poder mágico de conhecer e aprender" assumirá uma primacial relevância se não se perderem de vista os limites das suas margens reconhecendo que, no fundo, a realidade é insondável e o ser humano por mais inteligente e evoluído que seja não a poderá jamais definir e muito menos esgotar. A narrativa, vinda do fundo do tempo, das civilizações e da cultura, retomada pela Bíblia e "no princípio criou Deus o céu e a terra" e tudo o que existe ou venha a existir, continua de pé. As respostas do desenvolvimento científico e tecnológico, no fundo, não são contraditórias mas precisam de ir mais longe e enfrentar esse grande desafio para o espírito humano que seria o de abrir-se à possibilidade da existência de Deus infinitamente sábio e inteligente, clemente, misicordioso,  bom e todopoderoso que é simplesmente e desde sempre que a cultura judaico-cristão procura guardar e transmitir.




















domingo, 10 de março de 2013

Vai e vem de um eco opinativo que acabava por revelar um enorme círculo de superficialidade

Ao nível da comunicação social e, até, científica e cultural está-se em presença de um vai e vem de um eco opinativo cujo resultado é, de certa forma um enorme e repetitivo círculo de superficialidade, inconsistência e, porventura, muita irresponsabilidade. Vejamos mais de perto a realidade a que nos estamos a referir directamente. A ponta do iceberberg é, sem dúvida, a comunicação social. As tiradas jornalísticas, o comentário, sobretudo o de recorte político e sindical. Um discurso que inunda a opinião pública que, por sua vez, na sua grande maioria, devolve o eco dessa mesma opinião e tende a vazar para as ruas e para as redes sociais que, por sua vez, o vazam num contexto menos estruturado, difuso e, porventura, mais instável e perigoso para a tranquilidade e segurança das sociedades e organizações. Começa a ser um caldo preocupante que as sociedades em crise económica, financeira e social agudizan e avolumam. Mas este círculo de um eco opinativo e contagiante não se restringe ao mundo complexo e difuso da comunicação. A própria pesquisa científica e inovação se resentem e, de alguma forma, repetem esse eco que tende a reproduzir-se indefinidamente e das mais variadas formas, não apenas na produção de cada um dos autores mas também na comunidade científica, em geral. Trata-se não apenas de uma constatação simples e óbvia mas também de uma preocupação que encontra cada vez mais acolhimento sobretudo das pessoas mais atentas e esclarecidas. Urge dar a volta a esta situação embora uma resposta adequada e eficaz ainda não esteja devidamente consciencializada, reflectida e operacionalizada para a sua concretização. Também aqui se requer uma verdadeira magia do poder de conhecer e aprender a que os humanos têm naturalmente acesso. Mas este poder mágico de conhecer e aprender não poderá ser o poder do sofista ou do "aldrabão" dos nossos tempos mas o do sábio e do filósofo na sua tradição mais límpida e despojada.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Será que está a acontecer algo de novo em formação e inovação no ensino superior?


Após vários projectos de investigação em que foi concluído um número considerável de dissertações de Mestrado e Doutoramento e  depois de alguns anos em que me distanciei um pouco mais dessas temáticas e preocupações, uma questão que  me vem, com frequência, ao espírito é precisamente essa:.será que está a acontecer algo de novo em formação e inovação no ensino superior? As respostas que encontro, com base na informação que consigo recolher, não são muito esclarecedoras e convincentes. Tudo continua um pouco no mesmo ponto verificando-se apenas o aumento das burocracias que, porventura, não contribuem para uma maior organização e simplificação do sistema. Aquela transformação inovadora e qualitativa que se pretendia, julgo que se encontra, em boa medida, adiada. É pena mas é a percepção que, neste momento, nos fica.
A reforma de Bolonha  tão badalada parece não ter passado de pura cosmética e começa a ficar desacreditada. Os resultados, pelo menos, deixam muito a desejar em termos de uma formação mais vigorosa e rubusta- É mais espuma que outra coisa e é pena.
Revisitando sites mais metareflexivos sobre as novas tendências no ensino superior (new metatrends in higher education), princípios de 2012, verifico que algo parece começar a mudar rapidamente. Na base dessa mudança estão, em grande medida, as tecnologias mais avançadas da informação e comunicação e, designadamente, as novas gerações de computadores, de telefones, os smarthpones, os iphones, os ipods, os ipads e outras tabletes que irão criar novas formas e novos métodos de conhecer e aprender. Um verdadeiro poder mágico cada vez mais ao alcance de um grande número de potenciais utilizadores. Por isso, os métodos de aprender, investigar, comunicar irão sofrer profundas e significativas transformações. A própria organização e gestão das instituições formadoras e das sociedades irão mudar profunda e rapidamente. Quem não entrar nestas novas carruagens ficará irremediavelmente para trás.
Uma nova cultura educativa exigirá abordagens de conteúdo e metodológicas distintas bem como ritmos, espaços e tempos de aprendizagem e de pesquisa diversos. Mais do que nunca as aprendizagens terão de configurar estratégias e dinâmicas de pesquisa em que os aprendentes serão sobretudo instigados a colocar boas questões sobre as diferentes realidades físicas, biológicas, psicológicas, sociais, culturais na direcção do imensamente pequeno , do imensamente grande e do imensamente consciente em que as nanotecnologias e as nanociências irão, com certeza, abrir perspectivas muito mais promissoras a curto e a médio prazo. São desafios que já se colocam ao homem destes tempos que estão mais próximos do que nunca.
Apesar das densas e ameaçadoras núvens que atravessam os grandes e os pequenos espaços  e  os povos deste planeta, tudo parece estar a transformar-se e a mudar para melhor  mas é preciso que os novos cidadãos deste mundo cada vez mais globalizado e instável  estejam à altura destes tempos  e dos futuros que se avizinham. A educação, a formação e a pesquisa  irão ter, como sempre, um papel muito importante a cumprir e  o ensino superior terá, com certeza, uma palavra especial a dizer na matéria.  Estamos certos  de que isso irá realmente acontecer apesar das dificuldades e problemas com que, neste momento, se debate sobretudo em termos económicos e financeiros.
Continua  a ser muito importante, como em outras grandes mudanças e transformações do passado incutir nos principais  actores de formação e educação uma grande vontade de conhecer e aprender. Trata-se, na verdade, de um verdadeiro poder mágico, dimiúrgico, de inovação  em que  uma grande avidez e uma certa loucura como recomendava e praticava Steves Jobs não poderá deixar de acontecer sob pena de tudo ficar igual ou ainda pior. É esta enércia e imobilismo que será necessário contrariar e afastar constantemente.  Mas isso exigirá também uma mudança de esquemas mentais e de atitude permanente. Tudo isto parece fácil mas não o é de todo e exige discernimento, persistência e determonação.
Onde está o Programa de Bolonha  nas  Universidades? Houve progresso ou regresso? Perguntas que voltam, de novo,  e a que será preciso dar uma resposta  rigorosa e actualizada. Embora não possamos dizer que não tenha havido algum  progresso o facto é que as instituições do ensino superior foram  inundadadas de burocracias  inúteis que vieram consumir muita da energia e do tempo disponíveis dos principais actores  provocando  um certo retrocesso  em muitas iniciativas  que no campo da pesquisa e da formação estavam a acontecer.  Alguns testemunhos que nos chegam de docentes e alunos vão neste  sentido mas será necessário fazer estudos mais pormenorizados para tirar conclusões. A linha de investigação do CIDInE sobre "Docência e Inovação no Ensino Superior - DIES" está a projectar um colóquio para debater  essa temática com os principais actores de instituições do ensino superior envolvidos no programa. As conclusões  poderão originar publicações em revistas da especialidade para que o debate prossiga, se alargue  e possibilite  novas concepções e formas de intervenção  mais adequadas.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Ser resiliente é almofadar-se física, biológica, social e culturalmente para a vida

Com base na etimologia de resiliência, do latim resilio "tornar-se elástico", flexível, reflexivo, ser ou tornar-se resiliente é procurar almofadar-se do ponto de vista físico, biológico, psicológico, social, ético, cultural para enfrentar as situações mais ou menos adversas da vida. Esta "almofadagem" ao longo da vida apresenta níveis e características distintas em função dos diferentes tipos de personalidade e das aprendizagens e contextos socioculturais. Nas sociedades emergentes em que os níveis de stress tendem a tornar-se insuportáveis esta almofadagem é cada vez mais incontornável. A vida das pessoas, das famílias, das sociedades está seriamente ameaçada e pode quebrar. Por isso as pessoas têm necessidade de ser mais resilientes, ou seja, de almofadar-se física, biológica, psicológica, social e culturalmente contra todo o género de agressões a que estão sujeitas no mundo dos nossos dias. Neste almofadar-se, o conhecimento e as aprendizagens, a formação, a educação assumem uma importância primordial, um verdadeiro poder mágico, o único capaz de mobilizar toda a sua energia humana para a ação. Também aqui o desenvolvimento da mente e a sua consciencialização e assumpção por um eu mais inteligente, responsável e livre serão imprescindíveis, pois, a esse nível, essa almofadagem que torna as pessoas mais resilientes e humanas deverá ser comandada, sobretudo, por um eu mais conciente e, por conseguinte, mais sensível, emocional, flexível e livre.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

A coerência e a fundamentação do debate político

Há bastante tempo a esta parte, que me interrogo sobre as razões subjacentes ao debate político e, designadamente, em Portugal, que é aquela situação que conheço mais de perto embora as diferenças no essencial não me pareçam muito grandes. Parece, no entanto, haver uma linha bem nítida entre as direitas e as esquerdas. Enquanto que as direitas ainda aceitam algumas razões das esquerdas quando assentam em dados objetivos e consistentes, as esquerdas não aceitam nada que venha das direitas por mais fundamentado e óbvio que seja. Qual a razão dessa diferença que é substantiva e configura os comportamentos e a própria ação política? Terá a ver com a estrutura e a natureza cognitivas que lhe estão subjacentes? Não me parece. A razão não é, seguramente, de ordem cognitiva mas tática ou a tentativa de controlar o poder político que pelas urnas até agora as esquerdas mais radicais não conseguiram alcançar. Apenas o conseguiu, como sabemos, uma franja mais moderada do centro esquerda com o apoio do centro direita e das direitas.  Isso foi nítido na 1ª  e 2ª eleição de Soares à presidência e em algumas maiorias socialistas aos parlamentos nacional e europeu e às câmaras municipais.  Existem, com certeza,  diferenças impostas por pressupostos ideológicos e políticos mas nem por isso poderíamos negar que não sejam possíveis pontos de convergência que conviria ativar para possibilitar alternativas credíveis de governação ao nível nacional e local. Para isso seria preciso mais realismo e mais verdade na avaliação das políticas e dos sucessos e insucessos das mesmas. Quando se parte de posições extremadas, em que de um lado está tudo está mal, tudo é negativo ou está errado e do outro se apresenta uma visão de certa forma oposta sem atender ou reconhecer os pontos mais débeis, algo está a falhar e precisa de ser corrigido rapidamente para re-etabelecer um equilíbrio  pro-ativo e atualizado que possibilite alternativas credíveis e democráticas que não comprometam o progresso e o bem-estar do país. Para isso, urge incentivar mais criatividade e rigor na ação e na governança bem como nas medidas a adotar  que apenas  um bom discernimento apoiado num poder mágico de conhecer e aprender com a experiência e as boas práticas do passado e a leitura correta e contextualizada  das situações e dos problemas do presente poderão garantir uma verdadeira aposta no futuro. É por isso que insistimos neste poder mágico de conhecer e aprender que deverá presidir a toda e qualquer deliberação, decisão e ação humanas como segredo para o sucesso das sociedades emergentes. É por aí que será possível encontrar a boa direção para resolvermos os enormes problemas que afligem as sociedades e as organizações dos nossos dias e re-encontrar os princípios e os valores cívicos e éticos que lhe devem estar subjacentes. As novas gerações terão de consciencializar-se desta necessidade e a formação do novo cidadão não poderá eximir-se dessa responsabilidade que a pesquisa científica e tecnológica mais avançada aconselha e exige.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Avanços tecnológicos marcarão a nova era dos sistemas cognitivos

A invenção científica e a inovação tecnológica não param de nos surpreender. Notícias da IBM alertam-nos para inovações que poderão mudar profundamente as nossas vidas num futuro próximo. Sistemas informáticos serão capazes de reconhecer conteúdo de dados visuais, a breve trecho, como conseguirão dar um significado ao píxeis, à semelhança do que fazem os seres humanos para interpretar uma fotografia. Prevê-se ainda a possibilidade de ecrãs tácteis de telemóveis virem a ter funcionalidades de vibração para objectos  recebendo um conjunto único de padrões de vibração correspondente a cada um, diferenciando, por exemplo, seda do linho ou do algodão e ajudando a simular a sensação física de realmente tocar nos objectos. Por esta via, o próprio acesso à sensação das relações e dos acontecimentos mais ou menos objectiváveis será, porventura, o passo seguinte. Estão à vista os enormes impactos destas inovações em muitos sectores como a saúde, a agricultura, o exame dos alimentos, etc., etc. Por aqui se vê também o poder mágico de conhecer e aprender que está subjacente a todo este progresso da ciência e da tecnologia que possibilita todas estas maravilhas e que irá continuar a surpreender-nos ainda mais no futuro, assim os homens sejam inteligentes, livres, responsáveis e sábios para não perverter ou aniquilar todo esse sucesso.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Conhecimento e ação


No agir humano espera-se que à ação siga à deliberação que deverá integrar conhecimento, afetos, liberdade,  vontade e contextos sócio-culturais de vida individual e coletiva. Acontece que nas sociedades emergentes nem sempre se delibera, pensa, sente antes de agir. É certo que na velocidade dos acontecimentos e das situações previsíveis e imprevisíveis que se nos apresentam nas sociedades dos nossos dias não se pode ficar indefinidamente à espera da melhor deliberação para tomar a decisão de agir. Todas as realidades e as respostas às mais variadas situações que se nos colocam constantemente são relativas. Esperar decisões definitivas e absolutas não é  possível neste contexto espacio-temporal em que nos movemos, somos e estamos uns com os outros.  Mas também sabemos que a precipitação é inimiga de uma boa deliberação e consequente decisão.
O novo cidadão nas sociedades emergentes mais ou menos globalizadas não poderá ser privado de uma formação que deverá orientar-se no sentido de o preparar para tomar boas decisões. Por isso descobrir a força do poder mágico de conhecer e aprender que deverá estar subjacente aos processos de pesquisa e formação que  deveriam informar toda a ação e relação do homem nas novas sociedades não poderá de forma alguma estar ausente, antes, pelo contrário, terá que ser uma verdadeira prioridade e energia inspiradora e  determinante do agir humano.
Hoje, é, talvez, aquilo de que mais necessitam as sociedades dos nossos dias para poderem fazer face com sucesso aos grandes desafios que se lhe colocam. Mas é preciso, sobretudo, que os seus cidadãos sejam conscientes dessa necessidade e sejam devidamente preparados para darem a melhor resposta.