segunda-feira, 14 de maio de 2012

Conhecer e aprender como magia

Tomei conhecimento pela net da resenha que o Professor Pedro Demo teve a amabilidade de publicar na revista da UnB Linhas Críticas, vol. 17 nº 34, 2001,  pp. 643-654 sobre o meu livro "O Poder Mágico de Conhecer e Aprender". Senti-me muito honrado por um Professor como Pedro Demo que simplesmente não precisa de apresentações se ter interessado por este livro e, sobretudo, pela leitura tão perspicaz e minuciosa que fez do mesmo não apenas interpretando com todo o rigor a mensagem que se pretendia passar mas também enriquecendo-a e ajudando a explicitá-la e a clarificá-la. Embora não deva fazer qualquer apreciação, por razões óbvias, não posso deixar de agradecer este gesto de um colega por quem tenho muita consideração e apreço académico. Bem haja, Professor Pedro Demo, pois, julgo que é, com certeza, uma mais valia para o autor e um bom incentivo para os potenciais leitores do livro.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Conhecer, sentir, agir

Quando insistimos no poder mágico do conhecimento queremos dizer simplesmente que não é possível sentir e agir ao nível biológico, psicológico, social e cultural sem conhecer. A acção de conhecer é transversal a toda a espécie de actividade ou manifestação afectiva, uma condição sine qua non. Sem conhecimento não é possível qualquer tipo de reacção sensorial, inteligente, consciente, racional, emocional. Por isso, nunca será demais repetir que conhecer é um verdadeiro poder mágico, dimiúrgico, transformador sem o qual não é possível qualquer aprendizagem, inovação e invenção científica, artística e tecnológica. Hoje, como ontem, este continua a ser o grande desafio para uma sociedade do conhecimento que aprende e se transforma rápida e profundamente. Os meios, os processos, os métodos, as estratégias para atingir esse objectivo é que são bastante diferentes nestas sociedades abertas e globalizadas. A informação está cada vez mais acessível através da net, dos telemóveis, das tabletes mas é preciso assimilá-la, acomodá-la, equilibrá-la, adaptá-la, gerí-la criticamente e transformá-la em conhecimento, em acção e decisão para a resolução dos verdadeiros problemas do nosso mundo que, por outro lado, se encontra cada vez mais à deriva. É preciso, efectivamente, que o conhecimento assuma um verdadeiro poder mágico, na escola, na profissão, na vida.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Um coma consciente mal diagnosticado?

Tenho reflectido bastante sobre um caso de coma bem conhecido em Aveiro no meio hospitalar e da Academia Aveirense visto tratar-se do Administrador dos Serviços da Acção Social, Dr. Helder Castanheira, após uma curta visita que lhe fizemos numa casa de re-habilitação, na Tocha.
Naquela altura, após dois ou três dias de ter saído do coma, o Dr. Helder Castanheira, conseguia reproduzir as conversas de técnicos e profissionais de saúde bem como as pessoas e as falas de visitas especiais que tivera durante o estado de coma em que se encontrava inteiramente imobilizado mas em que podia ver o tecto para onde esteve virado durante esse tempo. Lembrava-se até das conversas oportunas e inoportunas dos técnicos de saúde na altura em que deliberavam se deviam desligar a máquina ou dar-lhe mais umas chances de vida. Desconheço as causas que terão provocado este estado comatoso e que as ressonâncias magnéticas poderão, com certeza, ter evidenciado, mas do que não tenho grandes dúvidas é de que o Dr. Helder Castanheira, esteve consciente durante muito desse tempo a avaliar pelo relato que nos fez da situação. De contrário, todo esse período teria sido um grande apagão psicológico, como aconteceu, ao longo do tempo, em outros muitos comas conhecidos na literatura da especialidade e não só, não lhe permitindo no pós-coma, embora ainda completamente imobilizado do lado esquerdo, evocar, recordar e descrever com muita precisão e serenidade o que sentiu durante todo esse período com ansiedade, pânico e, até, uma certa indignação sem nada poder fazer nem comunicar embora se estivesse a dar conta do que lhe estava a acontecer e a sentir que a sua vida estava completamente dependente do juizo dos técnicos.
Este caso terá de ser analisado mais em pormenor em função dos relatos construídos algum tempo após ter saído do coma confrontados com os autores, uma vez que se recordava das falas e das pessoas que as proferiram.
De qualquer modo, parece que estamos em presença de um coma consciente, muito semelhante a um outro de um cidadão belga só que este permaceu em coma durante 23 anos.
Embora nos interesse mais directamente a parte gnoseológica deste caso. há aspectos que não poderemos deixar de sublinhar, neste caso, aliás referidos com ênfase, pelo Dr. Helder Castanheira que se prendem com a dimensão diontológica dos profissionais de saúde em situações desta natureza.

quinta-feira, 22 de março de 2012

A nova escola, os novos métodos e a nova "magia" de aprender

Partindo da hipótese que, na dinâmica da interação do arco reflexo entre sujeito, objecto e ulteriores mediações interiores que se foram desenvolvendo entre o sujeito e o objecto suportados por diferentes neurónios transmissores, receptores, a consciência continua a desenvolver-se, porventura, ainda mais aceleradamente, como se pode ler em António Damásio:
“Podemos conceptualizar o cérebro como sendo uma elaboração progressiva do que começou como um simples arco reflexo: neurónio NEU apercebe-se do objecto OB e informa o neurónio ZADIG, o qual impulsiona a fibra muscular MUSC e provoca movimento. Mais à frente na evolução seria acrescentado um neurónio ao circuito do reflexo, a meio caminho entre o NEU e o ZADIG. Trata-se de um interneurónio e iremos chamar-lhe INT. O seu comportamento faz com que a reacção do neurónio ZADIG deixe de ser automática. O neurónio ZADI apenas reage, por exemplo, se o neurónio NEU disparar com toda a sua força sobre ele e não se o neurónio ZADIG receber uma mensagem mais fraca; uma parte essencial da decisão fica nas mãos do interneurónio INT.” (2010:381-82),
na nova escola será preciso, porventura, não perder de vista este pressuposto em relação aos novos métodos de estudar e pesquisar e uma nova "magia" de conhecer e aprender que o tornar-se mais humano no futuro irá exigir. Julgo que, o ser humano se encontra em desenvolvimento constante e nesse desenvolvimento está a adquirir mais capacidade neurocerebral e a ser  mais consciente, livre e responsável. São, pelo menos, esses os indicadores das pesquisas em curso sobre o assunto. A curto e a médio prazo a escola terá certamente que acertar o passo por estas novas tendências ou ficará irremediavelmente desactualizada e parada no tempo contrariando a dinâmica, porventura, dialéctica, de um aperfeiçoamento evolutivo que parece estar inscrito na própria essência e natureza da realidade existente e possível.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Correspondência entre padrões neurais e imagem mental

Esta é uma das hipóteses que António Damásio parece ter no centro do seu questionamento e que gostaríamos considerar mais em pormenor. Julgo que não é possível defender que há uma equivalência entre padrões neurais e imagem mental pois são realidades de natureza distinta. No estado actual da investigação, não parece, pois,ser defensável que a imagem mental procede de um determinado padrão neural no final de um processo evolutivo que, num preciso momento, espontaneamente se transforma em imagem mental. Nem António Damásio, no fundo, parece acreditar bem nisso.Trata-se apenas de uma hipótese que se revela interessante para continuar a investigar uma questão cujas respostas até agora encontradas estão longe de ser satisfatórias. A realidade do ser humano composto de alma e corpo continua a dar que pensar e a desafiar a biologia, a neurociência, a psicologia e a filosofia bem como as novas abordagens ao nível das nanociências e das nanotecnologias. Pelo que a arte continua a ser longa e vida breve para satisfação da curiosidade e cupidez do homem de todos os tempos em busca do seu próprio equilíbrio interminável.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

CIDINE: ABERTURA DO BLOG CIDInE - 1 de Junho de 2011

CIDINE: ABERTURA DO BLOG CIDInE - 1 de Junho de 2011: "ABERTURA DO BLOG CIDInE - 1 de Junho de 2011"

O problema de António Damásio

O problema de António e de outros muitos neurocientistas é o de um excesso de optimismo no progresso científico e da confiança excessiva na racionalidade. As hipóteses que levanta e procura demonstrar com base nas conclusões mais avançadas da pesquisa sobre as ligações do cérebro com o corpo, mundo interior e exterior, a criação da mente, o surgimento do eu e emergência da consciência ficam reduzidas e demasiado fechadas na dinâmica da evolução natural e espontânea. O cérebro humano ao nível cortical, talâmico e hipotalâmico e do tronco cerebral numa dinâmica colaborativa de acordo com as suas diferentes possibilidades de diagnóstico, coordenação e intervençâo a partir de todo um equipamento adquirido no decorrer da longa história da humanidade que, de alguma forma, se reproduz na vida de cada indivíduo, mapeia toda a realidade interior e exterior que por sua vez possibilita a entrada em acção da mente. Por sua vez, a entrada da mente torna possível a transformação das disposições em sentimentos primordiais e abrirá caminha à maravilhosa aventura da emergência da consciência que não terminará jamais. O proto eu e eu nuclear abrirão caminho ao eu autobiográfico que por sua vez possibilitarão a consciência nuclear e autobiográfica. A este nível, ficam ao alcance do ser humano o pensamento, a linguagem, o sentimento nas suas mais diversas modalidades, a ética, a cultura, a arte na suas diferentes expressões musical, pictórica, literária, arquitectural, etc. A narrativa científica de António Damásio não parece permitir ir mais longe tendo em conta o seu ponto de partida. Fica fechado no interior de uma visão evolutiva e imanente. A regulação da vida garantida por processos biológicos, corporais e neurocerebrais na interface corpo-mente em que dará mais tarde entrada o eu possibilitando a emergência da consciência dever-se-á à homeostase puramente biológica ou progressivamente potencializada e especializada pela mente e pela consciência uma vez habitada pelo eu nuclear e autobiográfico.
Como neurocientista Damásio não parece abrir-se à experienciação anárquica do antes em que tudo poderá ter acontecido, como diria Levinas, que apenas a ligação religiosa dos crentes possibilita, e predispor-se para poder entrar na exterioridade infinita de Alguém totalmente Outro, um Deus infinitamente amoroso, clemente e bom, revelado em Jesus Cristo como Pai. A neurociência de António Damásio, pelas leituras e estudos que me foi possível fazer, acho que não chega a este nível homeostático a que o ser humano parece aspirar e, porventura, reclamar, nem as hipóteses que científicamente pretende demonstrar o permitiriam. Mas é uma hipótese que de há muito está presente e é debatida e vivida na história da humanidade e exigirá também respostas nestes tempos que são os nossos e no futuro sem complexos mas com o melhor de todo o nosso equipamento cognitivo, afectivo, cultural que a longa história do progresso humano e de todo o seu aperfeiçoamento vai possibilitando. Isto poderia chamar-se simplesmente honestidade, desnudez, respeito para com a realidade que se nos apresenta em cada um dos momentos em que a pretendemos descrever, explicar e compreender. Pará isso será necessário, com certeza, mobilizar a ciência, a arte, a tecnologia e, porventura, a crença ao mais alto nível de que o ser humano vai sendo capaz em cada momento.